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China, terra do meio
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A ausência de Xi Jinping no Rio de Janeiro não impediu a China de anunciar acordos bilaterais com o governo brasileiro durante a cúpula do Brics. O primeiro-ministro Li Qiang foi a autoridade a representar o país e celebrar o que classificou como o "melhor momento na história" da diplomacia entre os dois parceiros.
Li esteve com Lula no Forte de Copacabana, no sábado (5), onde os dois discutiram uma série de projetos prioritários dentro do acordo de "sinergias" entre o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e a Iniciativa de Cinturão e Rota chinesa.
Segundo o Planalto, a China vai transferir tecnologia para implantar IA na produção agropecuária e colaborar no desenvolvimento do primeiro satélite meteorológico e ambiental geoestacionário fabricado no Brasil. A meta é ampliar a geração de dados espaciais e aumentar a precisão das previsões meteorológicas e climáticas.
Lula pediu que Pequim retome a importação de frango, suspensa desde a detecção de casos de gripe aviária em Montenegro (RS), em maio. Embora o Brasil tenha se declarado livre da doença em junho, autoridades chinesas não liberaram as certificações para normalizar as vendas.
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmou que os chineses reconheceram os esforços brasileiros e prometeram agilizar as análises para conceder a licença sanitária.
Além disso, a China assinou um memorando com o Ministério dos Transportes para estudar a viabilidade de uma ferrovia que conectará o Brasil ao porto de Chancay, no litoral do Peru.
O projeto é uma prioridade para os chineses, que correm para viabilizar comercialmente a estrutura desenvolvida para conectar América do Sul e China ao custo de US$ 3,5 bilhões (mais de R$ 20 bilhões na cotação atual).
Por que importa: os projetos anunciados trouxeram avanços importantes em áreas estratégicas para Lula. A expectativa agora é saber como o Planalto vai usar os laços mais fortes com Pequim na COP30, já que a China ainda resiste a doações diretas ao Fundo Amazônia e demonstrou pouco entusiasmo pelo projeto Florestas Tropicais para Sempre, principal aposta brasileira para a conferência do clima em novembro.
Pare para ver
Tela de Dewei Zhao, artista que vive e trabalha em Pequim e é conhecido por representar a vida metropolitana nos grandes centros urbanos chineses. Veja outros trabalhos dele aqui.
O que também importa
★ A polícia italiana prendeu um homem suspeito de integrar o grupo de hackers Hafnium, ligado ao governo chinês. Segundo autoridades, Zewei Xu teria ajudado a orquestrar ataques cibernéticos que miraram milhares de computadores, incluindo pesquisas sobre a Covid-19 nos EUA. Se confirmadas, as acusações representariam um raro caso de prisão de um hacker chinês patrocinado pelo Estado. A captura ocorreu após alerta da embaixada dos EUA na Itália sobre a chegada dele em Milão.
★ A fabricante chinesa de câmeras de vigilância Hikvision entrou na Justiça para tentar reverter uma ordem do governo canadense que determinou o fim de suas operações no país. A empresa pediu a suspensão da medida até a decisão final e retomou atividades no Canadá após acordo provisório com o procurador-geral. O governo canadense disse ter tomado a decisão após revisar informações de segurança e inteligência. Alvo de sanções nos EUA por ligações com violações de direitos humanos em Xinjiang, a Hikvision nega irregularidades, e Pequim criticou a decisão canadense.
★ Autoridades chinesas prenderam oito pessoas após mais de 200 crianças apresentarem níveis elevados de chumbo no sangue em Tianshui, província de Gansu. O caso ocorreu em uma creche privada, onde investigações encontraram chumbo em alimentos servidos com índices muito acima do permitido. As crianças foram hospitalizadas e receberão tratamento gratuito. Sintomas relatados incluem dores, falta de apetite e queda de cabelo. Por meio da mídia estatal, o governo chinês prometeu apurar responsabilidades.
Fique de olho
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou que a UE levará à cúpula com a China, em Pequim, propostas para reequilibrar as relações econômicas, reduzir riscos e reforçar a diplomacia em temas globais como o clima. O encontro, que acontece em 24 e 25 de julho, marcará 50 anos de laços das relações com o bloco europeu.
- Em Estrasburgo, na França, Von der Leyen afirmou que, se a China defende o multilateralismo, deve respeitar as regras da OMC (Organização Mundial do Comércio).
- Também criticou subsídios chineses que sufocam a concorrência e alertou para riscos estratégicos e cibernéticos.
Desafios estratégicos são uma barreira significativa para o aprofundamento das relações. Bruxelas continua reticente a cooperar com Pequim pela percepção de que os chineses pouco ou nada têm feito para frear os avanços russos na Guerra da Ucrânia.
Segundo o South China Morning Post, o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, disse a diplomatas europeus que organizam a cúpula que Pequim não quer ver a derrota da Rússia por temer que, uma vez concluído o conflito, os Estados Unidos se dediquem exclusivamente à competição com os chineses na Ásia.
Por que importa: o isolacionismo de Donald Trump enfraqueceu anos de esforços do governo Biden para atrair a Europa em uma aliança contra a China, mas enquanto prevalecer entre os membros da UE a percepção de que Pequim representa um risco estratégico à integridade territorial do continente, os encontros entre os dois lados seguirão meramente performáticos.
Para ir a fundo
O Instituto Confúcio da Universidade Federal do Ceará abriu inscrições para o Curso Regular de Mandarim. Com turmas nos níveis básico, intermediário e avançado, o curso é voltado a estudantes brasileiros e estrangeiros a partir dos 14 anos e não exige vínculo com a UFC. Outras informações aqui. (pago)
A Revista IDeAS (CPDA/UFRRJ) está recebendo artigos para o dossiê "Relações China–América Latina: investimentos, ambiente e agricultura". As submissões vão até o dia 24 de julho, conforme normas e orientações no site da publicação aqui. (gratuito)