No primeiro final de semana deste mês, São Luís, no Maranhão, recebeu a 7ª edição do São João da Thay, a festa de são João da influencer maranhense Thaynara OG. Pela primeira vez em sete anos, o evento deixou de ser restrito a convidados e foi aberto ao público, gratuitamente, como parte do calendário oficial do São João do estado.
Segundo cálculos da Polícia Militar (PM), 75 mil pessoas estiveram presentes nas duas noites da festa, cujo line-up misturava grandes nomes nacionais, como Joelma, João Gomes, J. Skine e Pedro Sampaio, além de artistas e grupos mais tradicionais do Nordeste, como Márcia Fellipe e Limão com Mel. O evento também teve apresentações de manifestações regionais, como o cacuriá do Balaio de Rosassendo e os grupos de bumba meu boi —alguns deles centenários, como o Boi da Pindoba, que carrega a tradição há 135 anos.
A mistura da cultura popular tradicional com grandes nomes no line-up tenta refletir a diversidade do São João maranhense, que mescla elementos da festa nordestina com influências mais amazônicas (como as danças e os figurinos dos bois, por exemplo). Não à toa, o slogan da edição deste ano foi "Somos Amazônia" —segundo Thay, a ideia é reforçar ao maranhense a identidade amazônica, uma vez que a fronteira da Amazônia Legal corta o estado de Norte a Sul, englobando 62 dos seus municípios.
"Fui uma criança e uma adolescente que teve a autoestima moldada pela vergonha do que eu ouvia na mídia sobre o Maranhão, e isso de alguma forma me tirou o orgulho de ser maranhense, me fez ter vergonha até do meu sotaque", afirma Thaynara. "O resgate desse pertencimento só veio na época no snap [aplicativo onde a influencer ganhou fama], quando eu tive contato com pessoas do Brasil todo e comecei a quebrar esses preconceitos. E é isso que eu quero fazer com o São João da Thay também."
Ao longo da primeira noite, na sexta (6), que começou às 19h e terminou quase às 4h, a festa teve, além dos bois, de Joelma e João Gomes, a cantora maranhense Fabrícia e participações especiais, como Valesca Popozuda e o DJ Felipe Mar. Tantas atrações numa mesma noite, somado à ausência da divulgação de uma grade horária, pode ter deixado parte do público um pouco cansado —os portões abriram às 18h, mas o primeiro grande show, de Joelma, começou às 22h30.
Já na segunda noite, no sábado (7), a pista estava notadamente mais lotada —segundo a PM, foram 45 mil pessoas, contra 30 mil da noite anterior. Boa parte do público ficou até o último show, de Pedro Sampaio, já na madrugada. Mas a espera foi até mais divertida que a apresentação do DJ carioca, com os sucessos do forró de Márcia Fellipe e as resenhas de J. Skine. A falta de espaços para descanso, onde o público pudesse se sentar entre os shows, foi um ponto negativo nas duas noites.
Por outro lado, o evento acertou ao abrir a programação ao público de forma gratuita. Enquanto a entourage de influencers convidados curtiam a noite do camarote —o evento se vende com orgulho como o São João com mais impressões na internet—, o público geral também o fazia na pista, separado da área VIP por uma grade.
Em ambas as áreas, como de costume em grandes festivais de música, o público podia interagir com ativações dos 19 patrocinadores da festa —que, segundo a organização, movimentou R$ 11 milhões na economia de São Luís e levou a rede hoteleira da cidade a registrar uma ocupação de 95%.
Todo o lucro do evento (além dos patrocínios, houve venda de ingressos para a área VIP), segundo a organização, foi revertido para instituições apoiadas pelo Criança Esperança no Maranhão e para o projeto Academia de Vida, idealizado por Thaynara, que oferece oficinas de comunicação, ilustração e criatividade, educação financeira, dança e atuação para jovens ludovicenses.
Ao capitanear um grande evento cultural gratuito e articulá-lo com ações beneficentes, Thaynara diz que passou a se ver também como uma empreendedora social.
"Antes eu achava que empreender era só vender um produto ou um serviço. Mas entendi que girar a economia criativa local, promover a cultura, o turismo, fazer tudo o que fazemos, também é empreender", diz ela. "É um trabalho que vai muito além da criação de conteúdo, em muitas frentes, durante o ano todo".