Com vagas, empresas chinesas exigem inglês e interesse por mandarim para contratar no Brasil

3 dias atrás 10

Desde janeiro de 2025 à frente do marketing da Hisense na América Latina, Erico Traldi diz estar calejado com o ambiente de corporações asiáticas.

"A empresa coreana é agressiva, a japonesa é metódica. Acho que a chinesa é uma mistura disso tudo", afirma, rindo, o executivo que trabalhou nos escritórios no Brasil da Sony (Japão) e da Samsung (Coreia do Sul) e, neste ano, foi um dos cerca de 30 contratados neste ano pela marca chinesa de aparelhos eletrônicos e eletrodomésticos que inaugurou um novo escritório para a América Latina em São Paulo.

O caso do VP de marketing é o exemplo de um fenômeno cada vez mais comum. Ao promoverem expansão no Brasil, empresas chinesas têm tirado profissionais de outras multinacionais.

Foi esse o caminho feito por Helen Ouchi, gerente jurídica da Hytera, marca de aparelhos de comunicação. No ano passado, ela trocou a Motorola, dos EUA, pela empresa chinesa.

"A cultura é muito diferente. Tem coisas de que eu até achei graça", conta ela, que cita a ausência de secretárias para receber convidados nos escritórios. "Quem recebe é sempre o diretor". O uso de aplicativos chineses como WeChat em vez do WhatsApp por todos os funcionários é outra exigência.

O executivo Caio Sanches relata que também precisou se adaptar ao ritmo chinês. Após mais de uma década na americana General Electric, ele foi responsável por abrir no Brasil o escritório da rival United Imaging, empresa de equipamentos médicos com sede em Xangai.

"É uma dinâmica diferente, mais rápida", afirma. "Em 14 anos na GE, recebemos o CEO global uma vez no Brasil. O CEO da United já veio três vezes em pouco mais de um ano", cita Sanches, que não fala mandarim, idioma oficial da China, o que recrutadores relatam não ser um problema.

"Essencial é saber inglês", afirma Tian Bin, da Iest, que presta assessoria para empresas chinesas no Brasil. Ele diz que o interesse pelo mandarim é algo que agrada aos executivos, mas o seu domínio não é obrigatório mesmo para quem responde para um gestor chinês.

Desde 2021 como diretora no Brasil da Microport, que fabrica dispositivos médicos, Mirangela Machado diz ter notado uma capacidade grande da empresa em se adaptar. "Eles já chegaram em outros mercados, como EUA e Europa, sabem que é preciso se aclimatar para competir".

A executiva, que trocou a americana Boston Scientific pela grupo de Xangai, é um exemplo raro de brasileira à frente da operação de uma multinacional chinesa no Brasil.

As empresas globais do país têm como padrão preencher de 20% a 30% das vagas em escritórios com expatriados. Na maioria dos casos, o principal executivo veio da China, assim como os vice-presidentes de áreas estratégicas como financeiro e produto.

Em algumas companhias, há dois vice-presidentes ou diretores, um local e outro expatriado, no comando de uma área, o que se convencionou chamar no mercado de "sombras". Cargos de gerentes e especialistas são ocupados por brasileiros.

Nos maiores escritórios, intérpretes trabalham para ajudar na comunicação entre brasileiros e chineses. Essa, aliás, é uma das funções com mais vagas abertas, segundo recrutadores ouvidos pela Folha.

A diretora da ZTE, Molly Zhu, desembarcou no início do ano em São Paulo para liderar a área de recursos humanos da empresa especializada em equipamentos e serviços de telecomunicações.

"Estamos com dificuldade de contratar", diz a executiva, que lista a formação de engenheiro eletricista como a mais em falta no mercado.

No final de maio, Zhu esteve numa feira em São Paulo organizada por empresas chinesas para contratar no Brasil. A ZTE informava ter 10 vagas em aberto, apenas uma delas com exigência do mandarim.

O evento teve apoio do consulado chinês e reuniu mais de 32 companhias, que anunciaram o total de 400 vagas em aberto.

Em três salões da faculdade ESEG, do Grupo Etapa, empresas de tecnologia como a Huawei, as marcas de smartphone Oppo e Jovi e a fábrica de máquinas pesadas XCMG recrutaram candidatos para as vagas. O espaço esteve lotado e havia fila de postulantes a vagas na entrada do campus.

O técnico mecânico Mateus Morais, 25 anos, foi um dos mais de 2.000 interessados em ofertas de emprego e informações sobre as empresas. "A China tem a maior polo industrial da minha área. Está na vanguarda de tecnologia. Já não é o futuro, é o presente", afirmou.

Read Entire Article