Reitores de três universidades dos Estados Unidos prestaram depoimento nesta terça-feira (16) ao Congresso e foram questionados ao longo de três horas sobre acusações de antissemitismo dentro das instituições de ensino.
Eles foram convocados por parlamentares republicanos como parte de uma ofensiva do governo de Donald Trump contra universidades após protestos estudantis pró-palestina terem se espalhado nos campi no ano passado.
O Comitê de Educação e Trabalho interrogou nesta terça o presidente interino da Universidade de Georgetown, Robert Groves, e os reitores da City University of New York e da Universidade da Califórnia, Félix Matos Rodrígues e Rich Lyons, respectivamente.
O órgão é responsável por supervisionar o Departamento de Educação e fiscalizar como são utilizados os bilhões de dólares em financiamento federal destinados a instituições educacionais. Por isso, os parlamentares que integram o colegiado podem exigir que dirigentes de universidades prestem depoimento e pressionar essas instituições com a ameaça de corte de verbas.
A sessão desta terça ocorre meses após reitoras de universidades da Ivy League, a elite acadêmica dos EUA, enfrentarem questionamentos incisivos em audiências no fim do ano passado. O episódio culminou com a renúncia das reitoras da Universidade Harvard, Claudie Gay, e da Universidade da Pensilvânia, Liz Magill, e com cortes de financiamento federal bilionários.
Na nova rodada de questionamentos, os reitores tentaram adotar uma posição equilibrada, afirmando que discursos que pareçam incitar à violência contra judeus são inaceitáveis, mas também defenderam as garantias de liberdade de expressão para estudantes e professores.
Os reitores se recusaram a comentar detalhes de casos específicos ou comentários de professores das instituições criticando a guerra. Rich Lyons, da Universidade da Califórnia, foi quem mais confrontou os membros do comitê.
Ele afirmou que nem todas as posições pró-Palestina são antissemitas e defendeu um professor criticado por declarações consideradas antissemitas, descrevendo-o como "um excelente acadêmico".
O docente, chamado Ussama Makdisi, fez um post afirmando: "Eu poderia ter sido um daqueles que romperam o cerco em 7 de outubro." Lyons reconheceu que a mensagem soava como uma celebração do ataque de 7 de outubro, mas se recusou a criticar o professor de forma mais ampla.
A audiência foi interrompida algumas vezes com manifestantes gritando palavras de ordem como "Palestina livre" e "há sangue em suas mãos". O deputado republicano Randy Fine, da Flórida, usou o episódio para criticar os reitores.
"Eu responsabilizo todos vocês por isso", disse. "É a atitude que vocês permitiram em seus campi que faz as pessoas acharem que esse tipo de coisa é aceitável."
O presidente do comitê, o deputado republicanoo Tim Walberg, afirmou em comunicado antes da audiência desta terça que o grupo está "cumprindo sua promessa de proteger estudantes e professores judeus, enquanto muitos líderes universitários se recusam a responsabilizar os instigadores desse ódio, preconceito e discriminação".
Por outro lado, democratas afirmam que os republicanos usam o tema como arma política e que confundem críticas ao governo israelense com antissemitismo, comprometendo a liberdade de expressão nos campi.
A reitora de Harvard, Claudine Gay, renunciou em janeiro deste ano após seis meses no cargo. Ela, a primeira mulher negra a ocupar o posto, estava sob pressão após declarações dadas em uma audiência ao Congresso repercutirem negativamente.
Isso porque, durante o testemunho, as reitoras se recusaram a responder "sim" ou "não" à pergunta de uma congressista republicana sobre se pedir o genocídio de judeus violaria ou não códigos de conduta das universidades. O vídeo do trecho viralizou nas redes sociais.
"Em Harvard, pedir o genocídio de judeus viola as regras sobre bullying e assédio? Sim ou não?", perguntou a deputada Elise Stefanik a Gay, que respondeu: "Pode ser, dependendo do contexto".
As críticas a sua fala se somaram a acusações de plágio em sua carreira.
Em março, o governo americano anunciou que estava retirando US$ 400 milhões (R$ 2,2 bilhões) da Universidade Columbia, por suposta omissão da instituição frente ao antissemitismo em protestos estudantis contra a guerra na Faixa de Gaza e o apoio de Washington a Israel.
A Universidade Columbia ganhou manchetes no mundo todo em 2024 quando se tornou um dos principais palcos de manifestações estudantis contra o conflito no Oriente Médio.
Alunos chegaram a montar barracas no campus para protestar contra a guerra e foram seguidos por estudantes de outras instituições americanas e de países como Austrália, França, Reino Unido, Canadá e Brasil.