O dólar abriu em leve alta nesta sexta-feira (18) com os investidores repercutindo as últimas declarações de Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump sobre a sobretaxa de 50% que será aplicada pelos EUA ao Brasil a partir de 1º de agosto.
Na noite desta quinta-feira, Lula disse em pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão que a decisão de Trump é uma chantagem inaceitável. O petista também criticou políticos favoráveis à sobretaxa, chamados por ele de "traidores da pátria", e disse que todas as empresas, nacionais ou estrangeiras, devem cumprir as regras do país.
Mais cedo, Trump enviou carta ao ex-presidente Jair Bolsonaro em que diz estar vendo "o tratamento terrível" que o aliado estaria recebendo em "um sistema injusto" que se voltou contra ele. "Este julgamento deve terminar imediatamente!", afirmou Trump em documento publicado na conta da sua rede social Truth Social.
Em meio às novas declarações dos presidentes, a moeda norte-americana abriu o sessão desta sexta subindo 0,29%, cotada a R$ 5,5640, às 09h06.
Nesta quinta-feira (17), em uma sessão marcada por alta volatilidade, o dólar encerrou com uma leve queda, enquanto a Bolsa fechou próximo da estabilidade, com movimentações do governo Lula para enfrentar a sobretaxa de 50% anunciada pelos Estados Unidos contra o Brasil, além do fortalecimento de Lula para as eleições de 2026.
A moeda norte-americana caiu 0,25%, cotada a R$ 5,546, na contramão da valorização do dólar no exterior. Já a Bolsa registrou um avanço tímido de 0,03%, a 135.564 pontos.
O mercado nacional iniciou a sessão com a notícia de que Moraes validou nesta quarta-feira (16) o decreto do presidente Lula (PT) que aumentou as alíquotas do IOF. A decisão anulou apenas a tributação sobre parte da medida do governo, que alterava a tributação sobre o chamado risco sacado.
A decisão de Moraes veio depois que uma audiência de reconciliação promovida pelo STF na terça entre representantes do Executivo e do Legislativo terminou sem acordo, com os dois lados optando por aguardar o veredicto do ministro, o que gerou enorme incerteza no pregão anterior.
Ainda que seja uma boa notícia para a arrecadação do governo, a volta do decreto torna mais caras uma série de operações, pressionando a moeda norte-americana.
Diante desse cenário, o dólar atingiu R$ 5,609 na máxima da sessão, às 9h30, com os investidores mais avessos por ativos arriscados no Brasil, e buscando mais dólares.
A alta do dólar pela manhã acompanhou o avanço das cotações também no exterior após a divulgação de dados robustos da economia norte-americana, que reforçaram a percepção de resiliência da economia dos EUA.
Números mostraram que as vendas no varejo dos EUA cresceram bem mais do que o esperado em junho, com uma alta de 0,6% na base mensal, ante queda de 0,9% no mês anterior e expectativa de um ganho ligeiro de 0,1% em pesquisa da Reuters.
Outro relatório informou que os pedidos iniciais de auxílio-desemprego caíram para 221 mil na semana encerrada em 12 de julho, ante 228 mil pedidos na semana anterior e projeção de aumento para 235 mi.
Os resultados fortes, de forma geral, passaram a percepção de que o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) terá um espaço reduzido para cortar a taxa de juros neste ano, apesar da pressão de Trump por cortes imediatos, o que acaba impulsionando o dólar.
O dólar passou a cair à medida que foram noticiadas falas do presidente Lula e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre como pretendem enfrentar a sobretaxa de 50% imposta pelos EUA sobre produtos brasileiros.
Nesta quinta, durante o congresso da UNE (União Nacional dos Estudantes), Lula rejeitou interferências externas nos assuntos internos do Brasil.
"Não aceitamos que ninguém de nenhum país de fora do Brasil se meta nos nossos problemas internos" e acrescentou que não vai ser um "gringo" que dará ordem nele.
O presidente disse ainda que o Brasil vai "julgar e cobrar impostos" das empresas digitais norte-americanas.
"Nós não aceitamos que em nome da liberdade de expressão você fique fazendo mentira, prejudicando", disse.
Já em entrevista à CNN Internacional, Lula afirmou que "ainda não" vê uma crise do Brasil com os Estados Unidos por causa das sobretaxas de 50%.
Ele reiterou a disposição brasileira de negociar o tema do comércio bilateral com os Estados Unidos, mas alertou que o país aceita uma negociação, mas não uma imposição por parte de Trump.
Já em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Haddad defendeu que o governo faça uma força-tarefa para encontrar os "pontos que estão pegando" na negociação para que o tema seja resolvido o mais rápido possível.
Folha Mercado
Receba no seu email o que de mais importante acontece na economia; aberta para não assinantes.
Na terça, o governo Lula havia mandado uma carta manifestando indignação e cobrando resposta dos Estados Unidos acerca da sobretaxa anunciada.
Do lado dos EUA, entretanto, vieram mais ameaças. O representante comercial Jamieson Greer disse que iniciou uma investigação sobre práticas comerciais "injustas" do Brasil. O processo decidirá se o tratamento dado pelo país ao comércio digital é "discriminatório" para o comércio dos EUA.
Além disso, a pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta quinta com simulações da disputa presidencial mostrou que, em simulações de segundo turno da eleição de 2026, o presidente Lula lidera diante de todos os concorrentes e mantém um empate técnico somente com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) —41% a 37% a favor do petista.
Na frente dos dados domésticos, investidores analisaram a notícia de que o FMI (Fundo Monetário Internacional) manteve a previsão de crescimento do Brasil neste ano para 2,3%, de acordo com comunicado divulgado pelo órgão nesta quinta. Até 2030, o crescimento deve chegar a 2,5% no ano.