Encontrada 1ª prova fóssil de que dinossauros de pescoço longo eram vegetarianos

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No filme "Jurassic Park", um personagem diz que não há nada a temer de um imponente braquiossauro, porque é um "veggie-saurus", ou seja, só come plantas. Littlefoot, o dinossauro de pescoço longo da série "Em Busca do Vale Encantado", também devora folhas. Mas, embora a cultura popular e a opinião científica geral concordem há décadas que os saurópodes de pescoço longo eram herbívoros, não havia prova definitiva encontrada no registro fóssil.

Havia, porém, indícios de uma dieta repleta de vegetais. Fósseis de saurópodes, que pisotearam o planeta por 130 milhões de anos, são abundantes; além disso, herbívoros tendem a superar em número os carnívoros.

Os animais tinham dentes pequenos e seus corpos enormes e pesados pareciam mal equipados para perseguir presas. "As plantas eram praticamente a única opção", disse o paleontólogo Stephen Poropat, diretor-adjunto do Centro de Geoquímica Orgânica e Isotópica da Austrália Ocidental na Universidade Curtin em Perth, na Austrália.

Um estudo publicado no dia 9 deste mês na revista Current Biology fornece o que pode ser a primeira prova concreta para apoiar esse argumento, na forma de plantas fossilizadas descobertas no estômago de um saurópode. "É a prova definitiva, a evidência direta real no ventre", disse Poropat. "Nunca havia sido encontrado antes para um dinossauro saurópode."

O paleontólogo contou com a ajuda de outros cientistas e voluntários do Museu Australiano da Era dos Dinossauros em Corfield para encontrar o fóssil, que está no centro do novo estudo. Sua localização ocorreu durante uma escavação na Formação Winton em Queensland, na Austrália, em 2017.

A equipe estava escavando um Diamantinasaurus matildae juvenil de 11 metros de comprimento, apelidado de Judy em homenagem à cofundadora do museu, Judy Elliott, quando os cientistas notaram algo estranho: uma camada de material vegetal fossilizado perto da pélvis do saurópode.

"Sabíamos que tínhamos encontrado algo excepcional", lembra Poropat.

Mas ele não queria tirar conclusões precipitadas. Conteúdos intestinais fossilizados são raros, sobretudo de dinossauros herbívoros, cujas dietas à base de folhas não ficam tão bem preservadas quanto os ossos nos estômagos dos carnívoros.

Os pesquisadores precisavam descartar a possibilidade de que as plantas simplesmente tivessem sido arrastadas para o intestino de Judy e fossilizado junto com o dinossauro. "Uma das coisas que selou a questão para mim foi o fato de que encontramos tão poucas plantas em qualquer outro lugar do sítio", afirmou Poropat. Algumas das folhas foram preservadas exatamente ao lado de uma camada de pele fossilizada, outra pista de que as plantas realmente pertenciam ao esqueleto. "Esse foi o fator decisivo."

A equipe analisou as massas de plantas fossilizadas em busca de biomarcadores, que são "essencialmente fósseis moleculares", segundo Poropat. Esses traços de compostos antigos indicaram que as plantas no intestino de Judy pertenciam a várias famílias botânicas, incluindo folhagens de altas coníferas e plantas com flores relativamente recém-evoluídas que teriam crescido mais próximas ao solo.

Os restos fossilizados no intestino de Judy revelam não apenas o que os dinossauros de pescoço longo comiam, mas também como comiam. As folhas quase intactas mostram que os saurópodes não mastigavam, de acordo com Poropat. "Eles cortavam seu alimento, engoliam e depois deixavam as bactérias intestinais fazerem o resto do trabalho por até duas semanas antes de excretar o que sobrava da refeição."

O conteúdo fossilizado coincidiu com uma hipótese de longa data de que os saurópodes dependiam de uma dieta variada, consumida da forma mais eficiente possível, para ficarem tão enormes. "Se você é pequeno, pode ser exigente", disse o professor de paleontologia P. Martin Sander,da Universidade de Bonn, na Alemanha, que não participou do estudo. "Se você é muito grande, não pode ser específico em sua alimentação; você tem que simplesmente devorar tudo."

Judy é apenas um espécime entre inúmeros dinossauros de pescoço longo, então não está claro quão bem esse fóssil representa o comportamento alimentar dos saurópodes como um todo. Entretanto, para Sander, mesmo um único conteúdo intestinal de saurópode fossilizado vale a celebração. "O incrível para mim é que ele realmente se preservou", disse Sander. "Eu não ousava esperar que isso acontecesse."

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