Entre os muitos artigos instigantes publicados na Folha e na seção Folha Estudantes, um dos mais recentes, escrito pelo professor Dawison Sampaio —Por que estudantes com muito conhecimento podem não conseguir aprovação no Enem?—, trouxe reflexões valiosas para estudantes, educadores e famílias.
A prova do Enem, por si só, não apresenta um conteúdo excessivamente complexo. Ela tem lógica, sim, e particularidades que a diferenciam de outras avaliações. Como afirma o professor Sampaio, "muitos tropeçam por não saberem como agir ao longo da preparação e durante a prova". Em outras palavras: não basta saber; é preciso saber se organizar, se adaptar e se equilibrar emocionalmente.
Folha Estudantes
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Quando digo que o Enem é "relativamente fácil", não estou subestimando a capacidade dos estudantes. Muitos se saem bem e conquistam suas aprovações. Outros, mesmo com muito estudo, não conseguem alcançar seus objetivos. Como diz o dito popular —ou o meme do momento—, "difícil pra quem?". A dificuldade é subjetiva.
E é justamente aí que reside um ponto central desta reflexão: independentemente do grau de dificuldade ou da lógica da prova, o Enem exige um olhar atento para a subjetividade de cada estudante. Cada candidato carrega consigo uma história única, com sua dinâmica própria de estudos, vivências, culturas, relações interpessoais e experiências emocionais.
O grande desafio contemporâneo na educação reside na profunda discrepância entre uma formação intelectual frequentemente robusta e um desenvolvimento emocional negligenciado; e é exatamente nesta lacuna silenciosa, onde o resultado do estudante inevitavelmente se limita pelo menor desses domínios, que se encontra o núcleo crítico de uma educação verdadeiramente completa.
Em 2024, mais de quatro milhões de estudantes se inscreveram para o Enem. Cada um com seus sonhos, expectativas acadêmicas e percursos singulares. É essencial compreender que o aprendizado, o desempenho na prova e a maneira como cada um lida com os desafios não seguem uma fórmula padrão.
Durante a prova do Enem, o que interfere no rendimento não é apenas o domínio de conteúdos, mas também a forma como o estudante gere seu tempo, lida com a pressão e responde emocionalmente às questões. Em provas como o Enem e vestibulares muito concorridos, a preparação intelectual é apenas uma parte da equação.
O que muitas vezes é negligenciado —por estudantes e também por professores— é o preparo emocional. Não raro, o que falta não é conhecimento, mas estímulo, apoio emocional e atenção ao bem-estar psíquico. Estresse, ansiedade e autossabotagem são obstáculos silenciosos que prejudicam mesmo os mais dedicados e preparados.
Superar esses desafios exige mais do que decorar fórmulas e datas. Exige autonomia na aprendizagem, equilíbrio entre o desenvolvimento intelectual e emocional, e, sobretudo, um planejamento estratégico que traga sentido ao estudo. Um plano que ajude o estudante a recuperar o gosto de aprender, que torne a assimilação do conteúdo mais leve, eficaz e, por que não, prazerosa.
A inclusão de elementos como acompanhamento terapêutico, práticas de autoconhecimento e estímulo ao raciocínio crítico e à comunicação podem ser decisivos. Tudo isso dentro de uma abordagem que valorize o estudante como ser humano —com suas dúvidas, limites, talentos e fragilidades. Uma abordagem que reduza o estresse e combata a baixa autoestima, tão comum nesta fase de transição.
A proposta, portanto, é aliar cuidado emocional e prática pedagógica. Estudar com eficiência não é estudar mais, mas estudar com sentido. Isso exige calma, individualidade, ritmo próprio e uma imersão tranquila. O preparo não pode ser meramente conteudista, recheado de tabelas e fórmulas. Saber isso é necessário, claro. Mas a aprovação no Enem —ou em qualquer grande prova— está diretamente relacionada à autoconfiança, paciência, resiliência e equilíbrio emocional.
Em um cenário educacional que, por vezes, foca demais a performance e menos a pessoa, talvez esteja na hora de retomarmos o essencial: educar não é apenas treinar para a prova, mas preparar o sujeito para a vida.
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