Entenda quem são os drusos e por que Israel está bombardeando a Síria em nome deles

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Nos últimos dias, uma onda de violência no sul da Síria evidenciou a fragmentação do país, palco de uma guerra civil de 14 anos, e colocou membros da pequena e influente comunidade drusa no centro do complexo xadrez político do Oriente Médio.

Nesta quarta-feira (16), Israel citou uma suposta proteção à minoria como motivo para bombardear os arredores do palácio presidencial de Damasco e o Ministério da Defesa. Espalhados por Líbano, Síria, Jordânia, Israel e Colinas de Golã, território sírio ocupado por Tel Aviv, os drusos seguem uma religião derivada do islamismo xiita. Entenda abaixo as características desse grupo.

Quem são os drusos?

Os drusos são árabes que seguem uma religião derivada de um ramo do islã xiita. Eles mantêm certo grau de sigilo sobre a prática de sua fé, que surgiu no século 11 e incorpora elementos islâmicos e outras filosofias, enfatizando o monoteísmo, a reencarnação e a busca pela verdade.

Um dos grupos mais antigos do Oriente Médio, eles se autodenominam al-Muwahhidun, que significa "aqueles que professam a unidade de Deus", e conseguiram preservar seus costumes por séculos. Não é possível converter-se druso nem casar com pessoas de fora da comunidade.

Alguns muçulmanos sunitas mais radicais os consideram hereges, mas o presidente interino da Síria, Ahmed al-Sharaa, que já pertenceu a um grupo ligado ao Estado Islâmico e à Al Qaeda, afirmou nesta quinta que os drusos são parte do tecido sírio e prometeu proteger seus direitos.

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Onde eles vivem?

Os drusos da Síria estão concentrados no sudoeste, na região de Sweida, que faz fronteira com a Jordânia, e em áreas da província de Quneitra, perto das Colinas de Golã ocupadas. Eles também residem no subúrbio de Jaramana, em Damasco. Em Israel, os drusos residem principalmente no norte. Já no Líbano, estão concentrados em regiões montanhosas, incluindo Chouf e Aley, e outras como Hasbaya, no sul.

Como eles se encaixam na política regional?

Embora sejam uma pequena minoria —há aproximadamente 1,5 milhão de drusos em todo o mundo, dos quais quase metade vive na Síria—, eles frequentemente desempenham um papel importante na política dos países onde vivem.

Em Israel, eles somam 150 mil e são o único grupo árabe com a obrigação de prestar o serviço militar. Por isso, muitos deles servem no Exército e na polícia israelense, inclusive na guerra na Faixa de Gaza. Alguns até mesmo alcançam altas patentes, o que significa que suas vozes não podem ser facilmente ignoradas pelas autoridades israelenses.

Embora a maioria se identifique como cidadão israelense, mais de 20 mil que vivem nas Colinas de Golã se identificam como sírios e têm laços estreitos com familiares do outro lado da fronteira. Diante dos apelos dos drusos israelenses para ajudar o grupo na Síria, Tel Aviv citou a proteção a eles como motivo para atacar o país vizinho repetidamente este ano.

A população drusa da Síria é estimada em cerca de 700 mil pessoas. Eles realizaram alguns protestos contra o ex-ditador Bashar al-Assad após a eclosão da guerra civil, em 2011, mas houve pouco conflito entre eles e Damasco, já que o governo se concentrou em tentar esmagar a revolta em áreas de maioria sunita.

Após a queda de Assad, em dezembro, e a consequente chegada a o poder de autoridades lideradas por islamitas, no entanto, houve vários confrontos.

Enquanto alguns líderes drusos têm pedido uma boa convivência com Damasco, outros se posicionam fortemente contra Sharaa —principalmente o xeque Hikmat al-Hajari, que pediu resistência às forças governamentais e apelou aos líderes mundiais, incluindo o primeiro-ministro israelense Binyamin Netanyahu, durante a violência desta semana.

Algumas figuras drusas criticam essa abordagem. O libanês Walid Jumblatt, por exemplo, um dos políticos drusos mais proeminentes da região, rejeitou a ideia de que Israel está protegendo os drusos da Síria e pediu unidade nacional.

O que está impulsionando a intervenção de Israel?

Israel bombardeava a Síria com frequência quando Assad estava no poder, buscando reduzir a influência estabelecida pelo Irã e grupos apoiados por Teerã que se estabeleceram no país para ajudar o ditador a combater os rebeldes.

Agora, Tel Aviv retrata o novo governo sírio como uma ameaça jihadista, dizendo que não permitirá que ele envie forças ao sul da Síria. Sharaa havia tomado a decisão na segunda (14), um dia após o sequestro de um comerciante druso por combatentes beduínos desencadear uma onda de violência na região.

A medida, porém, agravou a situação —profundamente desconfiados das autoridades, os líderes das milícias drusas pensaram que as tropas iriam atacá-los e se mobilizaram. Segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos, uma ONG com sede no Reino Unido, 516 pessoas foram mortas, incluindo 79 combatentes drusos e 154 civis. Já a Rede Síria para os Direitos Humanos disse ter documentado 193 mortos em quatro dias de combates, entre eles médicos, mulheres e crianças.

Israel afirma que quer evitar qualquer presença hostil em sua fronteira, ao mesmo tempo em que promete proteger a minoria drusa. Além disso, tropas israelenses também tomaram território sírio próximo às Colinas de Golã desde dezembro.

Sharaa disse nesta quinta que Israel está promovendo divisão entre os sírios, acusando-o de buscar "desmantelar a unidade" da população e dizendo que Tel Aviv criou discórdia na nação "desde a queda do regime anterior".

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