Apenas 12 escolas que tiveram os diretores afastados do cargo pela gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) estão entre as 25 com menor desempenho no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) na rede municipal de São Paulo em uma das etapas de ensino.
Além disso, apenas três delas estão entre as que têm menor desempenho quando consideradas as metas individuais de cada escola no indicador nacional.
Os dados são de um estudo feito pela rede de pesquisadores Repu (Rede Escola Pública e Universidade). O trabalho alerta para uma contradição na justificativa da prefeitura para a escolha das unidades. Para eles, não há critérios técnicos que embasem a decisão.
Em nota, a gestão Nunes defende que seguiu critérios "técnicos e transparentes". Segundo a Secretaria Municipal de Educação, foram considerados os dados do Ideb e Idep (índice da rede municipal) —este último foi usado no caso de escolas que não tiveram resultado divulgado no indicador nacional por não terem alcançado a participação de 80% dos estudantes nas provas.
Ainda segundo a secretaria, além dos resultados na prova, outro critério foi o tempo de atuação dos diretores. Foram escolhidos aqueles profissionais que estão há pelo menos quatro anos na direção da mesma unidade.
O estudo da Repu aponta para a "arbitrariedade e falta de consistência" nos critérios utilizados. Segundo os pesquisadores, a maioria das unidades apresenta resultados próximos ao da média da rede municipal.
A média do município de São Paulo no Ideb 2023 foi de 5,6 para os anos iniciais do ensino fundamental (do 1º ao 5º ano), abaixo da meta de 6,2 estabelecida pelo Ministério da Educação. Nos anos finais (do 6º ao 9º ano), o indicador foi de 4,8, também abaixo da meta de 6.
Os pesquisadores avaliaram ainda que a maioria das escolas selecionadas está menos distante de alcançar suas metas individuais do que a rede municipal na média. Há, por exemplo, quatro unidades em que a diferença da nota para a meta é de menos de 0,5 ponto —ou seja, estão mais perto de alcançar o resultado esperado do que a rede de ensino paulistana.
"A rede municipal de São Paulo teve uma piora no indicador, e a grande maioria das escolas não alcançou as metas previstas. Ao analisar os dados, identificamos que as escolas selecionadas para a intervenção não têm uma realidade diferente das demais. Inclusive, elas não têm um desempenho pior do que a média", diz Leonardo Crochik, um dos responsáveis pela pesquisa.
Em 2023, apenas 13,6% das escolas municipais alcançaram a meta estabelecida para os anos iniciais do ensino fundamental. Nos anos finais, só 3,3% atingiram a meta.
Os pesquisadores analisaram a diferença entre o resultado no Ideb e respectiva meta de cada escola. Apenas 3 das 25 escolas que tiveram os diretores afastados estão entre as 25 com pior desempenho, mais distantes de alcançar a meta.
Também há o caso de uma unidade, a Emef (escola municipal de ensino fundamental) Antonio Carlos Rocha, na Vila Moreira, zona leste da capital, que não atingiu a meta prevista para os anos iniciais, mas conseguiu alcançar para os anos finais.
A escola teve média de 4,6 nessa etapa, exatamente o esperado e está entre as dez unidades (das mais de 600 de toda a rede) que conseguiram atingir a meta para os anos finais.
"Não só não há um critério claro para embasar a decisão, como ainda parecem ter usado os dados de forma arbitrária para justificar a escolha das unidades. A análise mostra que essas escolas não têm um desempenho excepcionalmente pior do que o restante. A prefeitura se exime da responsabilidade de que o resultado é insatisfatório em todo o município", diz Crochik.
Em nota, a Secretaria Municipal de Educação disse que 16 escolas foram selecionadas por não apresentarem bons resultados nos anos iniciais, e 11, nos anos finais. Também explicou ter usado os dados do Ideb para 12 unidades e os do Idep, para 13.
"Ressalta-se, ainda, que todas as 25 escolas não atingiram as metas estabelecidas pelo Ideb nas duas últimas edições", diz a nota.