Em algum momento da vida, toda criança já escutou a pergunta: "o que você quer ser quando crescer?" Para os adolescentes que estão a poucos meses dos vestibulares e do Enem, essa escolha deixou de ser uma brincadeira distante e passou a representar uma decisão cada vez mais perto.
Diante da pressão e das incertezas desse momento, a orientação profissional surge como uma ferramenta para quem ainda está em dúvida sobre qual caminho seguir ou qual curso escolher na universidade.
O vestibulando de medicina Marcus Vinicius de Souza, 20, natural de Guaxupé (MG), sabe bem o que é passar pelo processo de escolha. Ele conta que, no início, não tinha a medicina como primeira opção do que cursar e seguir na vida profissional.
"Em um momento, achava que queria arquitetura. Em outro, estava com mais afinidade em engenharia. Mas quando a medicina se consolidou como escolha, nunca mais tive dúvidas e não me vejo fazendo outra coisa", afirma ele.
A orientação profissional é um processo voltado para auxiliar jovens em fase de escolha sobre a carreira e futuro acadêmico, especialmente diante dos desafios do vestibular e da entrada no ensino superior. Por meio de dinâmicas, conversas e análise de perfil, o processo ajuda o estudante a enxergar as preferências, habilidades e expectativas com mais clareza.
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Para Daniela Boucinha, psicóloga e presidente da ABRAOPC (Associação Brasileira de Orientação Profissional e de Carreira), o processo estimula o autoconhecimento e a exploração de possibilidades, com o objetivo de chegar a uma escolha.
"É importante que o estudante compreenda o impacto dessa decisão. É uma fase de transição, em que o jovem deixa de ser apenas um aluno da escola e passa a ser um estudante universitário", explica Boucinha.
Por se tratar de uma fase de transição, é importante que o aluno comece a considerar suas opções profissionais ainda no primeiro e segundo ano do ensino médio.
Além de pesquisas na internet, Boucinha também destaca a importância de ir além do nome do curso e buscar, de forma mais profunda, o que cada profissão realmente envolve.
"É fundamental explorar as possibilidades antes de decidir", explica ela. "Conhecer o que se faz naquela área, com o que se trabalha, quais são os campos de atuação. Quanto mais contato com essas informações, mais clareza o estudante terá para fazer uma escolha alinhada com os seus interesses."
Marcus Vinicius conta que, até o terceiro ano do ensino médio, não tinha definido qual carreira seguir. Mesmo com os pais querendo que ele seguisse na medicina, a dúvida persistia em meio a pressão dos vestibulares. Foi apenas após uma experiência fora da sala de aula que a sua escolha se tornou clara.
"Foi quando participei de um workshop na USP de Ribeirão Preto. Já tinha vontade de trabalhar com pessoas, com o contato humano, mas ali, vendo de perto as possibilidades e tudo o que oferece, tive certeza de que era a medicina que eu queria", recorda o estudante.
Também é importante que o estudante também avalie o estilo de vida que deseja construir a partir da carreira escolhida. Viktor Lemos, diretor geral do Curso Anglo, ressalta que a decisão sobre o curso superior deve considerar o perfil profissional e pessoal que o jovem busca.
Apesar de parecer distante, a escolha de uma futura profissão precisa estar conectada ao mercado de trabalho. Mais do que seguir uma preferência pessoal, o estudante deve considerar onde e como aquela carreira está inserida no cenário atual, quais são as perspectivas de empregabilidade e que caminhos ela pode abrir a médio e longo prazo.
"O estudante quer atuar em quais áreas? Qual será a dinâmica do dia a dia? Qual é a estrutura familiar que ele quer ter? Então, a busca ou escolha do curso superior deve considerar muito mais o mercado de trabalho que esse aluno deseja acessar do que necessariamente o curso que ele está prestando", afirma Lemos.
Segundo ele, a análise do estudante deve levar em conta não apenas o tipo de profissão, mas também onde ele melhor se desenvolve, seja em grandes centros urbanos ou em perfis específicos de universidade.
Além disso, o diretor geral do Curso Anglo lembra que é importante considerar escolhas mais seguras e compatíveis com a realidade socioeconômica do país, pensando em estabilidade e oportunidades desde os estágios até o ingresso efetivo na área.
Atualmente estudando para prestar pela terceira vez o vestibular de medicina, Marcus Vinicius reconhece que é difícil não se cobrar e pensar no futuro acadêmico e profissional. "Não tem como falar que não é um peso [estudar de novo, tentar entrar e não conseguir]."
"Conforme os anos passam e os vestibulares vão ficando para trás, sempre tem aquela vozinha no fundo da cabeça dizendo: se você não passar, vai ser mais um ano de cursinho, mais 365 dias com a vida voltada a passar na faculdade", explica ele.
Essa pressão, vivida por muitos estudantes , é reflexo de um sistema que cobra escolhas definitivas em um momento de tantas incertezas. Segundo Daniela Boucinha, contar com uma rede de apoio formado por familiares e amigos ajuda a reduzir a ansiedade e oferece suporte para lidar com os desafios dessa fase.
"As pessoas são autoras da sua história de carreira, mas elas também têm coautores. Então, ter uma rede de apoio torna-se fundamental para que o adolescente tenha essa confiança na tomada de decisão", afirma ela.
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