Os EUA ameaçaram impor tarifas de 17% sobre as exportações agrícolas da União Europeia (UE) em uma reviravolta no conflito comercial com Bruxelas, segundo três pessoas informadas sobre as discussões.
A medida de última hora, que funcionários da UE caracterizaram como uma escalada da disputa transatlântica, ocorreu antes do prazo de 9 de julho para chegar a um acordo entre as duas potências comerciais.
O presidente dos EUA, Donald Trump, impôs uma tarifa "recíproca" de 20% em abril, mas a reduziu para 10% até 9 de julho para permitir negociações.
Até os últimos dias, funcionários do bloco europeu esperavam que as conversas com os EUA manteriam as tarifas no patamar da taxa básica de 10%.
Não estava claro se os 17% sobre alimentos seriam adicionais às outras tarifas anunciadas por Trump ou substituiriam as mesmas.
Trump exigiu que Bruxelas conceda às empresas americanas amplas isenções de regulamentações e reduza seu superávit comercial com os EUA, mas funcionários da UE rejeitaram as últimas propostas de Washington sobre tais isenções e tarifas alimentares.
Folha Mercado
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A UE está tentando garantir suas próprias exceções para alguns produtos. Um funcionário de Bruxelas disse que peças de aeronaves e bebidas destiladas estão entre os bens para os quais o bloco busca exclusões.
Eles acrescentaram que os dois lados estavam trabalhando em um rascunho de cinco páginas de "acordo em princípio", mas atualmente este contém muito pouco texto acordado.
Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, disse na quinta-feira (3) que esperava um acordo em princípio que permitiria às partes continuar conversando enquanto aguardam um acordo final.
No entanto, Washington está pressionando os países a concordarem com acordos vinculativos até o prazo estabelecido por Trump.
Maroš Šefčovič, o comissário de comércio da UE, foi alertado sobre as propostas de tarifas de 17% sobre produtos agroalimentares na quinta-feira durante reuniões em Washington. Os 27 embaixadores dos estados-membros foram informados na sexta-feira (4).
O valor das exportações agroalimentares da UE para os EUA, incluindo produtos como vinho, totalizou 48 bilhões de euros (R$ 306 bilhões) no ano passado.
Šefčovič caracterizou repetidamente a alteração das regulamentações da UE para atender aos EUA como uma linha vermelha. No entanto, a UE também está em uma campanha de desregulamentação, enfraquecendo algumas leis ambientais.
Os países da UE estão divididos entre aceitar algumas tarifas mais altas em troca de um período de certeza e aqueles que desejam retaliar para pressionar os EUA a fazer concessões.
Friedrich Merz, chanceler da Alemanha, a maior e mais dependente de exportações economia da UE, tem pressionado a comissão, que administra a política comercial, a aceitar um acordo rápido. Ele está ansioso por isenções das tarifas setoriais de Trump de 25% sobre veículos e 50% sobre aço.
No entanto, vários embaixadores intervieram na reunião de sexta-feira para pressionar por uma ação mais forte contra Washington, segundo duas pessoas informadas sobre a reunião.
Dois diplomatas da UE disseram que foram informados de que os EUA haviam esboçado três cenários para 9 de julho: países com um "acordo em princípio" manteriam as tarifas de 10%, com possível alívio tarifário adicional em uma fase posterior; para países que não conseguissem chegar a tal acordo, as tarifas voltariam ao nível anunciado em abril até que um acordo fosse alcançado; tarifas mais altas seriam aplicadas a países que os EUA acreditam não estarem negociando de boa-fé.
Enquanto a UE prepara sua possível retaliação para as tarifas dos EUA sobre seus produtos, os estados-membros já aprovaram contra-tarifas sobre 21 bilhões de euros (R$ 134 bilhões) de exportações anuais dos EUA a partir de 14 de julho. A comissão está montando um pacote de mais 95 bilhões de euros (R$ 605 bilhões), incluindo aeronaves e alimentos.
Um porta-voz da comissão disse: "A posição da UE tem sido clara desde o início: favorecemos uma solução negociada com os EUA, e esta continua sendo nossa prioridade. Ao mesmo tempo, estamos nos preparando para a possibilidade de que nenhum acordo satisfatório seja alcançado."
A Casa Branca ainda não respondeu a um pedido de comentário.
TRUMP DIZ QUE 'PROVAVELMENTE' ENVIARÁ 12 CARTAS SOBRE TARIFAS A ALIADOS
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou na sexta-feira que seu governo enviará na segunda-feira (7) uma dúzia de cartas a vários aliados comerciais para informar sobre as tarifas que pretende impor a seus produtos.
O prazo estabelecido por Trump a dezenas de economias para negociar um acordo que evite a imposição de tarifas alfandegárias adicionais acaba em 9 de julho. Ele afirmou durante a semana que as tarifas devem variar entre 10% e 70%.
"Assinei algumas cartas e serão enviadas na segunda-feira, provavelmente 12", disse Trump à imprensa que o acompanhava a bordo do Air Force One.
O presidente republicano acrescentou que os países destinatários das cartas serão anunciados na segunda-feira.
No início de abril, Trump impôs uma tarifa de 10% sobre os produtos de quase todos os aliados comerciais americanos. Ele pretendia adicionar nos dias seguintes uma parcela adicional para vários parceiros de Washington, como Taiwan e União Europeia.
Contudo, o republicano decretou uma suspensão das tarifas adicionais para iniciar negociações que, até agora, só resultaram em acordos nos casos do Reino Unido e do Vietnã.
A poucos dias do prazo final de 9 de julho, Trump disse que informará as novas tarifas aos diferentes países com o envio das cartas.
A bordo do avião presidencial, o republicano explicou que assim é muito mais fácil do que "sentar-se e trabalhar em 15 coisas diferentes".
"É muito mais fácil enviar uma carta dizendo: 'Olhe, temos um certo déficit, ou, em alguns casos, um superávit, mas não muito (...) Isto é o que terá que pagar se quiser fazer negócios com os Estados Unidos'", afirmou.