As buscas por dezenas de desaparecidos nas enchentes que devastaram o centro do Texas no último fim de semana continuam nesta terça-feira (8), embora com menos esperança em sobreviventes da tragédia que já matou 105 pessoas, segundo o jornal americano The New York Times.
Equipes de busca ainda enfrentam a possibilidade de mais chuvas e tempestades enquanto vasculham toneladas de escombros cobertos de lama três dias após uma chuva torrencial transformar o rio Guadalupe, no sul do estado, em uma violenta torrente de água em apenas alguns minutos.
A maioria dos mortos estava concentrada na região da cidade de Kerrville e no Mystic, um acampamento cristão de verão para meninas de quase 100 anos situado em uma faixa do Texas Hill Country, região conhecida como "corredor de enchentes relâmpago".
Segundo o acampamento, ao menos 27 pessoas do acampamento, incluindo monitoras e crianças, estavam entre os mortos. O número, no entanto, ainda pode aumentar, já que dez meninas e uma monitora ainda estavam desaparecidas.
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Richard Eastland, homem de 70 anos que era diretor do Mystic, morreu tentando salvar crianças, segundo meios de comunicação locais. Ele e sua esposa, Tweety Eastland, são proprietários do acampamento desde 1974, de acordo com o site da instituição. "Se ele não fosse morrer de causas naturais, esta seria a única outra maneira, salvando as meninas que ele tanto amava e cuidava", escreveu o neto de Eastland, George, no Instagram.
"Esta será uma semana difícil", disse o prefeito de Kerrville, Joe Herring Jr., em um briefing na manhã de segunda-feira.
O debate sobre resposta à tragédia se intensificou desde o fim de semana. Há críticas em relação a como as autoridades estaduais e locais reagiram aos alertas meteorológicos que previam a possibilidade de uma enchente relâmpago e à falta de um sistema de sirene de alerta precoce que poderia ter mitigado o desastre.
Na segunda, o vice-governador do Texas, Dan Patrick, prometeu que o estado iria instalar um sistema de alerta de enchente relâmpago em Kerrville até o próximo verão se os governos locais "não puderem arcar com isso". "Deveria ter havido sirenes", disse Patrick em entrevista à emissora Fox News. "Se tivéssemos sirenes aqui ao longo desta área (...) seria possível ter salvado algumas vidas."
Segundo os jornais Houston Chronicle e New York Times, autoridades do Condado de Kerr haviam considerado instalar um sistema de alerta de inundação cerca de oito anos atrás, mas abandonaram o esforço por ser muito caro após não conseguirem garantir uma subvenção de US$ 1 milhão para financiar o projeto.
A tragédia reverberou no senador republicano Ted Cruz, do Texas. Ele enfrenta críticas porque estava de férias na Grécia no momento do desastre natural —fotografias compartilhadas nas redes sociais mostram o político visitando o Partenon, em Atenas, no sábado (5), sugerindo que ele pode ter mantido passeios no momento em que o número de mortos aumentava.
Seu gabinete não comentou a autenticidade das imagens, mas afirmou ter reservado "prontamente um voo" de volta, chegando nos Estados Unidos na noite de domingo (6), o mais cedo que conseguiu.
Nesta segunda, previsões do Serviço Meteorológico Nacional previam que até mais 10 cm de chuva poderiam cair sobre a região Texas Hill Country, com áreas isoladas possivelmente recebendo até 25 cm.
Dados da Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência da ONU para questões do clima, indicam que eventos climáticos extremos como secas, enchentes, deslizamentos de terra, tempestades e incêndios mais do que triplicaram ao longo dos últimos 50 anos em consequência do aquecimento global.
Outro órgão ligado à ONU, o IPCC (Painel Intergovernamental para a Mudança Climática), já afirmou em relatório que hoje é inequívoco que parte dessas mudanças foi causada pela ação humana.
"Eventos desse tipo não são mais excepcionais em um mundo em aquecimento", disse à agência de notícias Reuters Davide Faranda, do Centro Nacional Francês de Pesquisa Científica. "A mudança climática carrega os dados para inundações mais frequentes e mais intensas."