Fazenda prevê impacto de tarifas de Trump concentrado em setores específicos

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O Ministério da Fazenda prevê que o impacto da sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros, anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deverá ser concentrado em setores específicos e influenciará pouco a projeção de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) –estimado agora em 2,5%.

O secretário de Política Econômica, Guilherme Mello, vê possibilidade de realocação de parte da produção em outros mercados ou de aumento de oferta de produtos, como café, suco de laranja, no mercado doméstico diante de maior dificuldade de exportação.

"Mantidas as tarifas, alguns setores podem sofrer mais, dado que são setores de produtos tecnologicamente mais avançados, com uma demanda mais específica, isso não quer dizer que eles não podem também redirecionar para outros mercados, mas esse processo não é tão rápido e simples quanto nos produtos básicos", afirmou.

Mello ressaltou que o Brasil diversificou muito a sua pauta exportadora e os seus parceiros comerciais e que hoje é menos dependente da economia americana do que no passado. "Haverá algum impacto do ponto de vista macro, no crescimento econômico, mas ele não é tão relevante quanto seria se esse mesmo evento ocorresse 20 anos atrás", disse.

De acordo com o secretário, o impacto regional não será homogêneo e locais como São Paulo e Espírito Santo tendem a sofrer mais do que outros estados brasileiros. "São Paulo ainda é um estado cujo maior parceiro comercial do ponto de vista de exportações é os Estados Unidos, diferente da maioria dos outros estados do Brasil", ressaltou.

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Mello disse esperar que isso mobilize os setores produtivos e os governos desses estados "a construir uma saída e não comemorar o ataque ao país", sem mencionar o nome do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

O secretário da Fazenda evitou projetar o impacto das tarifas sobre a inflação brasileira em uma análise preliminar, dado o "elevado grau de incerteza". "É muito precoce qualquer análise sobre impacto inflacionário", afirmou.

Segundo ele, é preciso monitorar agora o efeito da guerra comercial com os Estados Unidos sobre o câmbio. Às 12h12, o dólar subia 0,59%, a R$ 5,573. Na semana, a moeda americana acumula alta de 2,6%.

"[O real] tem tido uma pequena desvalorização nos últimos dias, mas nada, por enquanto, que altere de maneira significativa as nossas projeções. Temos que observar o que vai acontecer ao longo dos próximos dias e semanas", disse.

Por outro lado, Mello jogou luz sobre "potenciais vetores deflacionários", como aumento de oferta de determinados produtos no mercado doméstico e alívio na inflação de alimentos.

"O Brasil é um grande exportador de carne, de café e de laranja para os Estados Unidos, pescados também. O fato de esses produtos, caso mantidas as tarifas, terem maior dificuldade de serem exportados, também pode significar uma maior oferta no mercado doméstico e ter efeitos deflacionários para esses produtos, que nos últimos meses, desde o final do ano passado, têm pressionado, por exemplo, a alimentação", disse.

Produtos importados pelos EUA do Brasil são, desde 2 de abril, sobretaxados em 10%. Além das tarifas de importação já cobradas, há uma cobrança adicional de 10%. Essa alíquota será substituída pela de 50% a partir de 1º de agosto.

A sobretaxa não é adicionada a produtos que já sofrem tarifas setoriais, como aço e alumínio, sobre os quais há tarifas de 50%.

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