Fóssil de dinossauro encontrado na China tem garganta semelhante à das aves

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Desde os anos 1930, os dinossauros retratados em filmes têm produzido diferentes sons. Mas as inspirações fossilizadas para esses personagens preservaram poucas evidências de que de fato correspondam à realidade.

Em um artigo publicado no último dia 11 na revista PeerJ, pesquisadores anunciaram a descoberta de um dinossauro herbívoro fossilizado da China que preserva uma garganta surpreendentemente semelhante à das aves. Isso fornece uma pista de que as origens do canto das aves podem remontar ao início dos próprios dinossauros.

O dinossauro de 60 centímetros de comprimento, que os pesquisadores batizaram de Pulaosaurus qinglong, foi descoberto em rochas de 163 milhões de anos no nordeste da China, segundo o paleontólogo Xing Xu, da Academia Chinesa de Ciências em Pequim, um dos autores do artigo.

O esqueleto oferece uma visão anatômica do animal de bico e pés ágeis, um membro primitivo da família que posteriormente originou os hadrossauros bico-de-pato e os dinossauros com chifres.

A formação do período Jurássico que produziu o Pulaosaurus também é a fonte de outras descobertas de dinossauros como o proto-pássaro emplumado Anchiornis, o minúsculo Yi qi semelhante a um morcego e o dinossauro herbívoro emplumado Tianyulong.

Diferentemente desses animais, o Pulaosaurus não está preservado com tecidos moles que poderiam ajudar a explicar melhor sua aparência em vida. "Em algumas partes do fóssil pensamos ter encontrado filamentos muito finos, mas não podemos confirmar isso", afirmou Xu.

A equipe observou formações interessantes na região do estômago do fóssil, no entanto ainda não determinou o que são. "Podem ser conteúdos estomacais —alimentos consumidos por esse dinossauro, ou órgãos, ou talvez até ovos dentro do corpo", disse Xu.

Os restos mais interessantes foram encontrados na garganta. Nos vertebrados, os órgãos vocais desempenham um papel importante na proteção das vias respiratórias e na produção de sons que vão desde simples assobios e grunhidos até a fala. Na maioria dos répteis vivos, esses tecidos são compostos de cartilagem e podem produzir simples bramidos, grunhidos, gemidos e chilreios. As aves modernas possuem órgãos vocais parcialmente formados por ossos delicados, permitindo que produzam sons muito mais complexos —incluindo, em alguns casos, a imitação da fala humana.

A anatomia dos órgãos vocais dos dinossauros tem sido um mistério há muito tempo. "Mesmo quando você tem um esqueleto de dinossauro preservado, nem sempre tem esses ossos isolados preservados com outros elementos do crânio", disse Xu. "São ossos muito finos, muito delicados e difíceis de preservar."

O primeiro relato de um dinossauro não aviário com órgãos vocais fossilizados —o Pinacosaurus, que viveu milhões de anos após o Pulaousaurus— é de 2023. Embora o Pinacosaurus não possuísse a distinta caixa vocal observada nas aves, os pesquisadores concluíram que sua laringe óssea era grande e móvel o suficiente para possivelmente ajudar a produzir sons semelhantes aos das aves. O espécime parece ter tido uma configuração vocal similar, segundo Xu, embora menos desenvolvida.

Pulaousaurus e Pinacosaurus pertencem a famílias de dinossauros separadas entre si por milênios de evolução. Cada um também está distante da linhagem que produziu as aves modernas. Embora seja possível que tenham evoluído independentemente em diferentes linhagens, de acordo com Xu, a presença de órgãos vocais semelhantes em grupos distintos sugere que vocalizações semelhantes às das aves possam ter surgido com os ancestrais mais antigos dos dinossauros, há mais de 230 milhões de anos.

Por enquanto, o maquinário vocal mais complexo permanece desconhecido em dinossauros não aviários. Mas ele pode aparecer um dia em um fóssil bem preservado, segundo Xu. É até possível que já tenha sido encontrado e simplesmente identificado incorretamente, já que os ossos pequenos e delicados são fáceis de passar despercebidos.

"Esperamos que no futuro possamos encontrar estruturas mais especializadas relacionadas ao som para que possamos pesquisar como os dinossauros produziam suas vozes", afirmou o paleontólogo.

Então, como soava o Pulaousaurus? Ele piava, por exemplo?

"Não sabemos", disse Xu. "Poderia ser algum ruído estranho. É difícil prever."

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