O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou em declaração na cúpula dos líderes do Brics, neste domingo (6), que a era da globalização liberal está obsoleta e que o futuro pertence aos mercados emergentes em rápido crescimento, que deveriam aumentar o uso de suas moedas nacionais para o comércio.
Putin falou por videoconferência aos líderes reunidos no Rio de Janeiro. O russo não veio ao Brasil devido a um mandado de prisão aberto contra ele no Tribunal Penal Internacional, que o acusa de ser responsável por crimes de guerra na Ucrânia. Moscou afirma que o mandado é infundado e sem sentido, e enviou o experiente chanceler do país, Serguei Lavrov, como representante de Moscou.
"Tudo indica que o modelo de globalização liberal está se tornando obsoleto. O centro da atividade empresarial está se deslocando para os mercados emergentes", disse Putin.
O presidente russo também pediu aos países do Brics que intensifiquem a cooperação em uma série de áreas, incluindo recursos naturais, logística, comércio e finanças.
Lá Fora
Receba no seu email uma seleção semanal com o que de mais importante aconteceu no mundo
Putin também mencionou o uso de moedas locais em comércio internacional, que ele avalia estar em expansão e ter potencial para continuar aumentando.
A ideia, no entanto, é contenciosa entre os membros do Brics, e a Rússia pressiona para que o grupo dê mais ênfase ao assunto —algo que não ocorreu na declaração final dos ministros de Finanças do grupo e não estará presente na declaração de líderes, à qual a Folha teve acesso.
A oposição se deve principalmente a países como Índia e mesmo o Brasil, que veem obstáculos para medidas do tipo e evitam termos que deixem muito evidente tentativas de contornar o uso do dólar na economia internacional, algo criticado pelo presidente americano, Donald Trump.
A Rússia vai continuar insistindo na discussão a respeito de sistemas de pagamento alternativos ao dólar no âmbito do Brics apesar da resistência de outros membros do grupo, de acordo com o ministro das Finanças do país, Anton Siluanov.
"Até o momento os membros do Brics não concordaram completamente, mas é uma discussão em andamento, e nós vamos perseguir esse caminho com países interessados nisso", afirmou o ministro, que está no Rio de Janeiro para a cúpula do grupo.
"Temos visto que não precisamos de um consenso completo ao buscar essa ou aquela decisão financeira. Estabelecer pontes entre sistemas de depósito ou adquirir instrumentos financeiros em um formato bilateral ou trilateral, isto é algo que pode ser feito a partir de um consenso mais amplo", afirmou Siluanov.
O ministro disse ainda que, uma vez que esses mecanismos sejam lançados, outros membros podem se juntar a eles. "É um trabalho em andamento. Em algumas questões nos movemos mais rápido, em outras, mais devagar, mas há progresso", afirmou.