A primeira geração a crescer entre algoritmos, redes sociais e inteligências artificiais também é a que mais convive com a ansiedade, o medo de ficar de fora, a comparação constante e a solidão digital. Não é coincidência, mas sim um retrato do tempo em que vivemos —um tempo em que as interações mediadas pela tecnologia moldam afetos, crenças e visões de mundo, impactando profundamente a saúde emocional e a forma como jovens se comunicam, se relacionam e se percebem.
Se, em um espaço de poucas décadas, nosso imaginário sobre a internet deixou de ser um de democratização da informação e passou a ser um de riscos, polarização e violências, isso não se deve a aspectos inerentes da tecnologia —e sim à interação mutuamente transformadora entre as inteligências de máquina e a nossa bagagem mais humana, incluindo emoções e assimetrias históricas de poder, em um contexto regido por interesses comerciais.
A fluência técnica dos jovens, porém, nem sempre é acompanhada pela compreensão dos códigos socioemocionais desse território. A mesma tecnologia que permite a expressão criativa e o acesso a vozes diversas também impõe normas silenciosas, como a estética idealizada das redes, os algoritmos que priorizam o engajamento a qualquer custo e o ritmo frenético do consumo de conteúdo, impulsionando fake news, representações estereotipadas ou violência de gênero. Tornar esses mecanismos e seus efeitos sociais e emocionais visíveis é a melhor maneira de fazer frente aos danos causados por desinformação, padrões excludentes e interações desumanizadas que podem acontecer nos ambientes digitais.
Para isso, é fundamental que a escola seja espaço de mediação, criando oportunidades de compreender, experimentar e transformar esses contextos. O desenvolvimento de habilidades técnicas precisa caminhar lado a lado com a construção de uma postura ética e acolhedora. Isso significa refletir sobre o impacto das recomendações algorítmicas, sobre as relações entre dados e decisões, e sobre como determinadas representações midiáticas podem afetar a autoestima e o senso de pertencimento de alguns jovens, e até violar os seus direitos.
Segundo a pesquisadora Sonia Livingstone, da London School of Economics, a maturidade digital (e por consequência a resiliência aos riscos) advém de uma combinação entre letramento, autorregulação e autonomia —e esses elementos só se constroem com experiências educativas que integram saberes, emoções e valores. Mais do que aprender a usar ferramentas, é necessário aprender a se posicionar diante delas, compreendendo seus limites e possibilidades e fortalecendo o cuidado consigo e com o outro.
Neste cenário, falar em educação midiática é ir muito além de ensinar técnicas de busca, curadoria de informação ou verificação de fontes. É um processo contínuo e situado, que precisa considerar as especificidades de cada faixa etária, os desafios emocionais enfrentados por crianças e adolescentes e o modo como suas subjetividades são atravessadas pelas tecnologias, sem deixar de reconhecer que hoje os ambientes digitais também são importantes espaços de socialização. É preciso, sobretudo, entender o papel essencial da educação para as mídias para construção de sentido, de consciência crítica e de vínculo social.
Em um mundo cada vez mais moldado por decisões automatizadas, educar para as mídias e para a tecnologia é também educar para o que há de mais humano: o reconhecimento das emoções, a escuta ativa e o diálogo. A educação midiática convida à reflexão sobre o próprio modo de existir e interagir em sociedade, e precisa ser construída sobre um pacto coletivo de cuidado: com nosso próprio bem-estar, com o bem-estar coletivo e com o planeta