O Lar Escola São Francisco, na zona sul de São Paulo, encerrará suas atividades após 82 anos atendendo pessoas com deficiência. A decisão foi tomada pela AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente), mantenedora do espaço.
Aqueles atendidos no local serão transferidos para a rede estadual de educação ao fim de 2025.
Hoje, o setor escolar da AACD tem 21 estudantes cursando diferentes anos do ensino fundamental, sendo que seis concluem a formação neste ano. Em nota, a entidade informa que tomou a decisão por alguns fatores, dentre eles a falta de renovação de uso do espaço e não regularização da licença de funcionamento junto aos órgãos competentes.
Além disso, "pela avaliação de que é necessária a inclusão de todos os estudantes em escolas regulares da rede pública de ensino, visando o desenvolvimento integral de cada indivíduo", diz a AACD. Segundo a associação, "a Secretaria da Educação do estado de São Paulo preconiza que todas as crianças e jovens estejam em escolas da rede".
Os pais dos alunos do Lar Escola começaram a ser avisados sobre o fim dos serviços. Funcionários temem que o grupo de alunos —que reúne cadeirantes, crianças e adolescentes com deficiências intelectuais, no espectro autista e com paralisia cerebral— não tenha o devido amparo nas instituições do estado.
A associação diz que uma reunião foi realizada com a participação de representantes da diretoria da Secretaria da Educação e dos pais dos alunos.
Na ocasião, o estado teria assumido o compromisso de realizar uma avaliação individualizada das necessidades e especificidades de cada estudante e indicar a unidade escolar mais adequada para o atendimento de cada aluno.
"A AACD colocou os seus profissionais à disposição das famílias e da secretaria para dar o devido apoio nessa transição e, se necessário, acompanhamento dos alunos nas escolas regulares em 2026".
O Lar Escola São Francisco nasceu da iniciativa da professora secundarista Maria Hecilda Campos Salgado, morta em 2005, aos 104 anos.
Em 1942, ela era voluntária no antigo abrigo de menores da capital paulista, cuidando de 13 meninos órfãos com deficiência física. No ano seguinte, decidiu alugar uma casa e passou a assumir a responsabilidade total das crianças, abrigando-as em regime de internato. Em 1946, com ajuda de amigos e empresários paulistas, comprou a primeira casa, na rua França Pinto, 783, na Vila Mariana, zona sul.
Em 1951, o lar recebeu autorização da Secretaria da Educação para funcionar como escola de educação especial. Três anos depois, passou a oferecer cursos profissionalizantes, como tapeçaria, marcenaria, tipografia, pintura, costura, sapataria, entre outros. Em 1966, foi inaugurada a sede onde até hoje funciona o lar, na rua dos Açores, 310, no Jardim Luzitânia, em terreno de 7.300 metros quadrados cedido em comodato pela prefeitura.
A instituição, com o passar do tempo, começou a cuidar também da reabilitação de adultos e idosos. Nessa toada, foi estabelecido, em 1991, um convênio com a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e criada uma área de reabilitação gerontológica. Os atendimentos chegaram a 1.700 por dia.
Em abril de 2012, o Lar Escola São Francisco foi incorporado à AACD. O setor de reabilitação para idosos foi extinto em 29 de junho daquele ano.