Líder de acampamento no Texas foi avisado sobre enchente súbita, mas esvaziou local 1 hora depois

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Um alerta de "enchente súbita ameaçadora à vida" chegou ao celular de Richard Eastland à 1h14 de 4  de julho. Mesmo assim, o diretor do Camp Mystic —acampamento cristão feminino às margens do rio Guadalupe— só começou a retirar as cerca de 550 crianças e monitoras do local uma hora depois, quando a água já invadia a propriedade.

O atraso, confirmado pela família, precedeu a morte de ao menos 27 pessoas. Um alojamento, que abrigava meninas de até oito anos, ficou submerso. Eastland morreu tentando resgatar as vítimas que estavam no local.

O acampamento, a quase dez quilômetros da cidade mais próxima e com sinal de celular instável, proibia que as meninas levassem telefones. Os alto‑falantes pararam de funcionar devido à queda de energia.

Ao receber o alerta, Richard Eastland chamou, via walkie‑talkie, parentes para "avaliar a situação" e só às 2h30 decidiu esvaziar o local, segundo Jeff Carr, porta‑voz da família.

Os depoimentos de familiares, que também trabalhavam no acampamento, divulgados pelo jornal americano Washington Post são as primeiras indicações de que eles receberam aviso prévio da enchente. O alerta do Serviço Nacional de Meteorologia (NWS), porém, não trazia ordem para retirada das pessoas —prerrogativa das autoridades locais, que não se manifestaram.

Richard Eastland e a esposa, Tweety Eastland, eram proprietários, desde 1974, do acampamento cristão que existe há quase cem anos numa região do Texas conhecida como "corredor de enchentes‑relâmpago".

O alerta do NWS previu muito menos precipitação do que a registrada. A tempestade fez o rio Guadalupe atingir 11,4 m —um recorde histórico— após subir quase quatro metros em apenas uma hora, segundo medições posteriores do Serviço Geológico dos EUA.

Muitos alojamentos ficavam em zonas de alto risco definidas pela Agência Federal de Gerenciamento de Emergências (Fema), e as águas ultrapassaram esses limites, alcançando outras habitações.

Entrevistas feitas pelo Washington Post com monitores, autoridades de emergência, pais e especialistas mostram que, enquanto Eastland conversava pelo walkie‑talkie sobre como reagir ao alerta, o acampamento mergulhava no caos. Não está claro se alguém ligou para a emergência; o chefe dos bombeiros voluntários de Hunt disse não se lembrar de pedidos de ajuda.

Lá Fora

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Com a água avançando, monitores adolescentes tiveram de tomar decisões sem orientação. Eles acordaram as meninas e tentaram levá‑las para terrenos mais altos. Pais relatam ter passado horas acompanhando, nas redes sociais e na TV, relatos de destruição antes de receberem qualquer contato oficial, que só chegou às 11h28.

"Ignorar os alertas não faz sentido", critica Serena Aldrich, mãe de duas sobreviventes e ex-campista. Advogada, ela questiona por que o plano de desastre, considerado "em ordem" numa inspeção estadual realizada dois dias antes, não previa o esvaziamento imediato do local.

Autoridades também são alvo de críticas. O condado de Kerr dispõe de um sistema capaz de disparar alertas para todos os celulares, mas só o utilizou dias depois, quando novas chuvas ameaçavam a região.

A investigação oficial sobre as mortes ainda não foi concluída, mas pais e sobreviventes já falam em ações judiciais.

"Naquelas condições, minutos custam vidas", disse Ainslie Bashara, monitora de 19 anos que guiou dez meninas com água na altura do peito. "Se existe uma chance mínima de enchente, tire todo mundo."

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