Líderes da Alemanha e do Reino Unido assinam pacto de defesa mútua enquanto EUA se afastam da Europa

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Não houve passeio de carruagem puxada por cavalos nem banquete no Castelo de Windsor, como durante a visita de Estado do presidente Emmanuel Macron, da França, na semana passada. Mas quando o primeiro-ministro alemão Friedrich Merz e seu homólogo britânico Keir Starmer assinaram um tratado de defesa histórico nesta quinta-feira (18), isso acrescentou mais uma camada ao retrato da Europa se unindo contra ameaças estrangeiras.

O acordo anglo-alemão, conhecido como Tratado de Kensington, promete que os dois países "se ajudarão mutuamente, inclusive por meios militares, em caso de um ataque armado contra um deles". Isso ecoou a linguagem adotada pelo Reino Unido e pela França, que concordaram, após a visita de Macron na semana passada, em coordenar mais estreitamente seus arsenais nucleares na resposta a ameaças contra aliados europeus.

O acordo é mais uma prova de como os líderes europeus estão se unindo para enfrentar um cenário confuso pela política externa "America first" do presidente Donald Trump e pelo ataque implacável do presidente russo, Vladimir Putin, à Ucrânia.

Além da defesa e da segurança, o tratado abrange energia, cooperação econômica e migração. Ele se baseia em um acordo assinado em outubro passado, pelo qual os países concordaram em realizar exercícios militares conjuntos e desenvolver armas sofisticadas.

Merz, um líder de centro-direita que chegou ao poder em maio, rapidamente se tornou uma peça fundamental nos esforços da Europa para construir um papel mais independente em sua segurança desde o retorno de Trump à Casa Branca. Starmer, que recebeu Merz no número 10 da Downing Street, também tentou posicionar o Reino Unido como um ator crítico no apoio europeu à Ucrânia em sua guerra contra a Rússia.

"Vemos a magnitude dos desafios que nosso continente enfrenta hoje e pretendemos enfrentá-los de frente", disse Starmer, ao lado de Merz em uma fábrica da Airbus —focada em material espacial e de defesa— em Hertfordshire, ao norte de Londres.

"Estamos realmente a caminho de um novo capítulo", disse Merz, observando que a agressão da Rússia está "abalando a arquitetura de segurança europeia" e que a aliança transatlântica passa por "uma transformação de longo alcance".

Nem Merz nem Starmer falaram muito sobre Trump, embora o alemão tenha elogiado o presidente por anunciar no início desta semana que os Estados Unidos forneceriam novas armas à Ucrânia por meio da Otan. "A Europa e os Estados Unidos estão puxando na mesma direção aqui", disse Merz.

A Alemanha não possui armas nucleares, mas é o terceiro maior fornecedor de equipamentos militares para a Ucrânia, depois dos Estados Unidos e do Reino Unido, de acordo com o Instituto Kiel para a Economia Mundial. Sob Merz, a Alemanha concordou em aumentar seus gastos militares para 3,5% do produto interno bruto até 2029, seu rearmamento mais ambicioso desde o fim da Guerra Fria.

O Reino Unido e a Alemanha fizeram avanços nos últimos anos no estreitamento da cooperação em segurança com a França, disse Mark Leonard, diretor do Conselho Europeu de Relações Exteriores, uma organização de pesquisa. Mas a relação britânico-alemã tem evoluído mais lentamente. "A assinatura deste tratado é realmente um grande passo à frente", disse ele.

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Georgina Wright, pesquisadora sênior do German Marshall Fund em Paris, disse que o tratado foi uma "vitória fácil" para os países, uma vez que ambos não tinham uma estrutura institucional que formalizasse sua cooperação em defesa. Apesar de todo o seu simbolismo, ela disse que o tratado nunca seria tão importante para a Alemanha quanto seus laços de defesa e segurança com a França, sua vizinha continental. "Trata-se de preencher uma lacuna muito clara", disse Wright.

Ainda assim, Merz parecia encantado com o fato de o acordo ter sido assinado no Victoria and Albert Museum, em Kensington. O museu, disse ele, foi escolhido porque recebeu o nome da rainha Vitória e de seu marido, o príncipe Albert, nascido na Alemanha, famosos por seu longo casamento. Era um presságio promissor para o tratado, brincou ele.

Autoridades alemãs chegaram a se referir ao tratado como um "contrato de amizade", destinado a aproximar os dois países em um momento de preocupações crescentes com a segurança e a superar as divisões causadas pela saída do Reino Unido da União Europeia.

Em um momento de estagnação econômica em ambos os países, o acordo de amizade inclui medidas para fortalecer os laços comerciais, desde uma parceria de pesquisa científica até melhores conexões ferroviárias. Ele também apresenta várias medidas relacionadas à migração.

Entre elas estão uma nova cooperação para combater o tráfico de pessoas e esforços mais direcionados para facilitar a visita de cidadãos britânicos e alemães aos países um do outro. Viajantes frequentes do Reino Unido, por exemplo, poderão passar pelos aeroportos alemães com mais facilidade.

Starmer agradeceu a Merz pela mudança na lei alemã que permite às autoridades apreender pequenas embarcações de imigrantes no país. "É um sinal claro de que estamos falando sério", disse o primeiro-ministro, observando que isso se baseia no acordo que ele assinou na semana passada com a França para coibir a travessia ilegal de migrantes pelo Canal da Mancha.

Por razões de protocolo diplomático, a visita de Merz foi mais modesta e profissional do que a de Macron. Ao contrário de Macron, Merz não é um chefe de Estado (a Alemanha tem um presidente essencialmente cerimonial). Starmer foi o anfitrião do premiê, enquanto o rei Charles 3º que recebeu Macron, retribuindo sua própria visita de Estado à França em 2023.

Quando Trump fizer uma rara segunda visita de Estado ao Reino Unido em meados de setembro, ele, assim como Macron, receberá todas as honras e pompa. No final deste mês, Trump fará uma visita semiprivada a seus dois clubes de golfe na Escócia. Espera-se que ele se encontre com Starmer, mas não com o rei, enquanto estiver lá.

Ainda assim, a falta de pompa e circunstância para Merz diz pouco sobre a importância da relação entre ele e Starmer. Ambos são líderes centristas, lutando para governar em sistemas políticos polarizados. Ambos também são relativamente novos, o que significa que podem trabalhar juntos por anos. Starmer acaba de completar seu primeiro ano no cargo; Macron, por outro lado, está no crepúsculo de sua presidência, com eleições na França marcadas para 2027.

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