Nesta segunda-feira (23), a embaixada brasileira em Roma, localizada na belíssima Piazza Navona, foi palco de um evento sobre a colaboração Brasil-Itália em matemática. Na ocasião, o Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa) e o Istituto Nazionale di Alta Matematica (INdAM) assinaram um acordo bilateral para fomentar o intercâmbio de pesquisadores e estudantes dos dois países.
A colaboração bilateral remonta aos anos 1940-50, quando destacados matemáticos italianos passaram longos períodos no Brasil, ajudando a lançar algumas de nossas instituições mais importantes, como o Instituto de Matemática e Estatística da USP. Hoje, a Itália é um de nossos principais parceiros na área.
A circunstância me levou a pensar na singular posição da matemática na antiguidade romana. Singular pela ausência: em quase um milênio, o império mais notável que o mundo já viu nunca produziu um matemático nativo digno de nota. Quem chegou mais perto foi Boécio (480 - 524), mas os seus trabalhos são meras traduções (ruins) de obras gregas. O contraste com os vizinhos gregos não poderia ser mais chocante.
Esse fato é surpreendente: excelentes arquitetos, engenheiros e administradores, os romanos certamente utilizaram muita matemática na construção de sua civilização. E se é verdade que outros grandes impérios foram medíocres na produção do conhecimento matemático, os romanos tinham a seu favor o fato de conhecerem bem a civilização grega e sua extraordinária contribuição à disciplina, que eles admiravam.
Sabemos que estavam conscientes da importância da matemática para o que faziam e da necessidade de promover a disseminação desse conhecimento. O arquiteto Vitruvius (70 a.C. - 15 a.C.), em cujas ideias Leonardo da Vinci se inspirou em "O Homem Vitruviano", insistia que os estudantes de arquitetura aprendessem geometria, ótica, aritmética e geometria. E Galeno (129 - 216), "pai da medicina", recomendava aos futuros médicos do século 2º que estudassem geometria, aritmética e astronomia.
Colunas e Blogs
Receba no seu email uma seleção de colunas e blogs da Folha
A explicação mais comum é que, criaturas de enorme sentido prático, os romanos não tinham apreço pela teoria, pela indagação abstrata. Aplicaram a matemática em seus aquedutos, templos, estradas e cidades, mas nunca se interessaram por especular a respeito das ideias que utilizavam, por entendê-las e alargá-las.
Há alguma verdade nisso. Mas há outros pontos que são menos mencionados. Primeiro, tendo absorvido a maioria do mundo helenístico em seu domínio, eles podiam se dar o luxo de deixar a seus súditos de cultura grega —como o matemático Diofanto (século 3º) e o astrônomo Ptolomeu (século 2º), por exemplo— o interesse por esse tipo de questões. Além disso, a falta de prestígio do conhecimento científico no mundo romano estava ligada ao fato de ser assunto dos "pedagogos" (professores), que eram frequentemente escravos. Lógica, retórica, direito e política, ocupações da elite senatorial, eram muito mais valorizadas. Isso demorou outro milênio para (começar a) mudar.
Em 212 a.C., Arquimedes foi morto por legionários durante a conquista de Siracusa. Dizer que talvez tenha sido a ação de maior impacto dos romanos no mundo da pesquisa matemática seria um pouco malvado.