Uma especialista das Nações Unidas citou mais de 60 empresas, incluindo grandes fabricantes de armas e negócios de tecnologia, em um relatório que aponta seu envolvimento no apoio aos assentamentos israelenses e às ações militares em Gaza, que ela chamou de "campanha genocida".
A advogada italiana de direitos humanos Francesca Albanese, relatora especial da ONU para os Territórios Palestinos Ocupados, construiu o relatório com base em mais de 200 contribuições de Estados, defensores dos direitos humanos, empresas e acadêmicos.
O relatório, publicado nesta segunda-feira (30), pede que as empresas cessem suas relações comerciais com Israel e que os executivos envolvidos em supostas violações do direito internacional sejam responsabilizados legalmente.
"Enquanto a vida em Gaza está sendo destruída e a Cisjordânia está sob um ataque crescente, este relatório mostra por que o genocídio de Israel continua: porque é lucrativo para muitos", escreveu Albanese no documento de 27 páginas. Ela acusou as entidades corporativas de estarem "financeiramente ligadas ao apartheid e ao militarismo de Israel".
A missão de Israel em Genebra disse que o relatório era "juridicamente infundado, difamatório e um abuso flagrante de seu cargo". O gabinete do primeiro-ministro israelense e o Ministério das Relações Exteriores não responderam imediatamente aos pedidos de comentários.
Israel rejeitou as acusações de genocídio em Gaza, citando seu direito à autodefesa após o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, que matou 1.200 pessoas e resultou em 251 reféns, de acordo com números israelenses. A guerra subsequente em Gaza matou mais de 56 mil pessoas, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, e reduziu o enclave a escombros.
O relatório agrupa as empresas por setor, por exemplo, militar ou tecnologia, e nem sempre deixa claro se elas estão ligadas aos assentamentos ou à campanha em Gaza. Ele afirma que cerca de 15 empresas responderam diretamente ao gabinete de Albanese, mas não publicou suas respostas.
Ele cita empresas de armas como Lockheed Martin e Leonardo, alegando que seus armamentos foram usados em Gaza. Ele também lista os fornecedores de maquinário pesado Caterpillar Inc e HD Hyundai, alegando que seus equipamentos contribuíram para a destruição de propriedades nos territórios palestinos.
A Caterpillar já declarou anteriormente que espera que seus produtos sejam usados de acordo com o direito internacional humanitário. Nenhuma das empresas respondeu imediatamente aos pedidos de comentários da Reuters.
As gigantes da tecnologia Alphabet, Amazon, Microsoft e IBM foram citadas como "centrais para o aparato de vigilância de Israel e a destruição em curso em Gaza".
A Alphabet já defendeu seu contrato de serviços em nuvem de US$ 1,2 bilhão (R$ 65, bilhões) com o governo israelense, afirmando que ele não é direcionado a operações militares ou de inteligência.
A Palantir Technologies também foi mencionada por fornecer ferramentas de IA para as forças armadas israelenses, embora detalhes sobre seu uso não tenham sido incluídos.
Lá Fora
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O relatório amplia um banco de dados anterior da ONU de empresas ligadas aos assentamentos israelenses, atualizado pela última vez em junho de 2023, adicionando novas empresas e detalhando supostas ligações com o conflito em curso em Gaza.
Ele será apresentado ao Conselho de Direitos Humanos da ONU, composto por 47 membros, na quinta-feira. Embora o Conselho não tenha poderes juridicamente vinculativos, os casos documentados pelas investigações da ONU ocasionalmente informaram processos judiciais internacionais. Israel e os Estados Unidos se retiraram do Conselho no início deste ano, alegando parcialidade contra o Estado judeu.