O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, o vice-presidente Geraldo Alckmin, cogita formar uma comitiva interministerial para ir a Washington negociar com os EUA. A ideia é atrair o governo norte-americano para um acordo eminentemente comercial, retirando o componente político da discussão do tarifaço previsto para vigorar a partir de agosto.
Para isso, a proposta é apresentar um cardápio de medidas de interesse dos EUA. Entre elas está o fim de algumas barreiras tarifárias e não tarifárias contra produtos norte-americanos. É o que afirmaram ao Painel S.A. empresários que discutiram o plano com Alckmin. Eles concordaram em falar sob condição de anonimato.
Consultado por meio de sua assessoria, o ministro não quis se manifestar.
Na carta ao presidente Lula, o presidente dos EUA, Donald Trump, relacionou o tarifaço à defesa de Jair Bolsonaro, mas também disse que a sobretaxa é necessária "para corrigir anos de políticas tarifárias e não tarifárias do Brasil e barreiras comerciais".
Um estudo do banco BTG Pactual mostra que o Brasil está acima da média mundial na imposição de barreiras não tarifárias nas suas importações. De tudo o que chega ao país, 86,4% sofrem restrições, enquanto a média no restante do mundo é 72%.
Entre essas barreiras não tarifárias estão a necessidade de cumprir especificações técnicas, como exigências de certificação e rotulagem, licenças prévias requeridas, barreiras sanitárias e cotas.
Até o último segundo
Alckmin foi acionado por diversos empresários de peso. Eles foram unânimes ao pedir ao ministro que o governo brasileiro adie, ao máximo, a retaliação à sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros pelos EUA.
Para eles, a negociação de acordos comerciais seria a alternativa para uma retaliação por parte do Brasil, considerada a última medida.
Os empresários acreditam ser elevado o risco de os EUA não voltarem atrás com o tarifaço antes de 1º de agosto, quando a sobretaxa entrará em vigor.
O Brasil, portanto, terá o desafio de negociar com os americanos enquanto os produtores brasileiros já estarão sofrendo perdas com o tarifaço.
Dois deles disseram que o vice-presidente não deve pedir adiamento da data, mas trabalhar direto no cancelamento da sobretaxa, ainda que isso ocorra depois do dia 1º.
Outro ponto que não apareceu na carta de Trump, mas que tem sido alvo de ataques públicos por parte de Trump, são os planos do Brics –grupo de países emergentes– de criar uma moeda única, para fazer frente ao dólar.
Pessoas próximas a Alckmin e que participam das discussões sobre negociações com os EUA dizem que o Brasil não recuará nesse ponto e que Trump terá que aceitar que o bloco econômico, assim como foi com a União Europeia, tem direito de impor a medida.
Com Stéfanie Rigamonti