O PL de Jair Bolsonaro começou a pagar pelo impulsionamento de publicações nas redes sociais, em resposta à ofensiva petista que deu fôlego ao governo Lula nas últimas semanas.
Enquanto o PT pagou para ampliar o alcance de um vídeo que associa Jair Bolsonaro ao tarifaço de Donald Trump e começou a disputar as cores verde e amarela com a direita, o PL decidiu lançar uma campanha que culpa Lula pelas tarifas.
O movimento é pouco usual para o partido de Bolsonaro. Até o lançamento da contraofensiva, em 16 de julho, as publicações patrocinadas pelo PL em redes como Instagram e Facebook eram esporádicas. As mais recentes eram de abril e março. Antes disso, não havia posts patrocinados desde outubro de 2022, quando foi realizada a última eleição presidencial.
O patrocínio de postagens em redes sociais é conhecido como impulsionamento. Usuários pagam para que determinado conteúdo chegue a mais usuários. No caso do Facebook e do Instagram, as publicações pagas aparecem na página de anúncios da Meta, dona das duas plataformas.
O impulsionamento de publicações é visto com ceticismo na cúpula do partido de Bolsonaro. A avaliação é que o campo político da direita já tem boa circulação nas redes sociais, sem a necessidade de pagamentos para as plataformas.
Desde a última semana, o PL patrocinou oito postagens, com valores de até R$ 999 cada, cifras relativamente baixas. As campanhas ainda estão em andamento, e as postagens com mais alcance até agora foram visualizadas entre 450 mil e 600 mil vezes até aqui. O público-alvo potencial passa de 1 milhão de pessoas por publicação.
A postagem mais vista desse pacote diz que Lula é culpado pela sobretaxa de 50% anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a produtos brasileiros exportados para o mercado americano.
"A culpa pela taxação imposta por Trump é totalmente do Lula", diz a peça em sua abertura. Em seguida, são exibidos episódios em que o petista se mostrou desalinhado com os Estados Unidos.
Em outra postagem patrocinada, o partido diz que Bolsonaro é perseguido sem provas, enquanto Lula está livre e com mandato apesar de, segundo a versão do PL, haver provas contra o petista. A referência é aos processos contra Lula durante a Operação Lava Jato, que foram anulados depois de levar o atual presidente para a cadeia. A imagem associa o petista às cores preta e vermelha, enquanto o ex-presidente é associado ao verde e ao amarelo.
O partido de Bolsonaro também passou a reforçar o discurso de que o ex-presidente é alvo de uma perseguição judicial agravada ao ser monitorado por uma tornozeleira eletrônica e ter sua liberdade restrita.
Nas últimas semanas, o PT obteve ganhos para a popularidade de Lula ao associar a Bolsonaro as tarifas anunciadas pelos EUA. Como mostrou a Folha, o partido pagou para impulsionar um vídeo no qual Bolsonaro aparece como um boneco de ventríloquo controlado pelo chefe do governo americano.
Os valores, com a campanha terminada, foram bem mais altos que o usados pelo PL até agora: ficaram entre R$ 70 mil e R$ 85 mil, somando dois anúncios, de acordo com a Meta. As cifras do partido de Bolsonaro podem aumentar porque os impulsionamentos ainda estão em andamento.
Trump anunciou a sobretaxa depois de uma campanha conduzida nos EUA pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente.
Na carta em que divulgou a nova tarifa, o presidente dos EUA vinculou a medida ao julgamento de Bolsonaro. Trump classificou o processo como uma caça às bruxas.
O caso levou o grupo político de Lula a promover falas sobre soberania nacional e tentar disputar as cores da bandeira brasileira. O verde e o amarelo, nos anos anteriores, haviam se tornado um dos maiores símbolos do bolsonarismo.
As publicações do PL também exploram o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), proposto pelo governo Lula, e reivindicam a criação do Pix como uma conquista do governo Bolsonaro.
O entorno de Lula trabalha para enquadrar a discussão sobre impostos como uma questão de justiça tributária, tirando o PT e o governo da defensiva no debate público.
Além disso, o partido de Bolsonaro começou a usar paródias de peças criadas pelo partido de Lula na campanha "Defenda o Brasil". A página do PL transformou o slogan em "Defenda o Brasil do PT".
Antes da série de postagens de julho, a última vez que o PL havia patrocinado publicações havia sido em março e abril. O objetivo, naquele momento, era promover a Rota 22, uma série de atividades políticas para impulsionar a popularidade do partido no interior do Brasil. O principal foco era o Nordeste, região onde Lula tem mais força.
Em alguns desses vídeos, Bolsonaro aparece convidando eleitores do Rio Grande do Norte a comparecer às atividades.