Preço da gasolina não cai e setor diz que etanol e inflação pressionam custos

10 horas atrás 3

O preço da gasolina chegou à quarta semana de estabilidade nos postos brasileiros, sem atingir o repasse integral estimado pela Petrobras quando reduziu o valor de venda do produto em suas refinarias, no início de julho.

Representantes do setor alegam que o preço da estatal é apenas um dos fatores da composição final do preço e que houve variação para cima de outros custos, como o etanol anidro e energia elétrica, por exemplo.

"Nosso mercado não é uma foto, é um filme. Existem vários pontos que influenciam no dia a dia, e postos são o último elo da cadeia", disse à Folha o presidente da Fecombustíveis (Federação Nacional do Comércio Varejista de Combustíveis e Lubrificantes), James Thorp Neto.

Segundo a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis), a gasolina comum foi vendida pelos postos brasileiros na semana passada, em média, a R$ 6,22 por litro, R$ 0,05 a menos do que o valor verificado na semana anterior ao corte da Petrobras.

A estatal reduziu seu preço em R$ 0,17 por litro e disse que, considerando a mistura de 27% de etanol no produto final, estimava um repasse ao consumidor de R$ 0,12 por litro. A frustração da expectativa vem gerando críticas tanto do governo quanto da estatal.

Há duas semanas, o Palácio do Planalto determinou que a AGU (Advocacia Geral da União) pedisse investigações sobre os preços, gerando incômodo entre empresários do setor, acusados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de enganar o consumidor.

Dados elaborados pelo Ineep (Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás e Biocombustíveis) indicam que, de fato, houve aumento das margens de distribuição e refino na venda de gasolina em julho, passando de R$ 1,14 para R$ 1,24 por litro.

O presidente da Fecombustíveis defende que a fotografia não condiz com a evolução do mercado, que chegou a baixar os preços em um primeiro momento, mas depois foi impactado por outros custos, como as altas do etanol e da gasolina fornecida por outras empresas.

"A redução da Petrobras vai impactar só no que ela fornece. Mas, no Norte e Nordeste, a maior parte do produto não é Petrobras. É Acelen [refinaria na Bahia vendida pela estatal ao grupo árabe Mubadala] e produtos importados", afirma.

A cotação do etanol também teve um repique na segunda quinzena de junho, logo após o anúncio do aumento da mistura na gasolina para 30%, que começa a vigorar no dia 1º de agosto.

Segundo dados do Cepea (Centro de pesquisa Econômica Aplicada) da USP, o preço do etanol anidro nas usinas paulistas subiu de R$ 2,91 para R$ 2,99 por litro. Depois caiu a R$ 2,95.

O preço do etanol hidratado, que é vendido diretamente nos postos, não apresentou o mesmo movimento nas usinas, oscilando em torno dos R$ 2,70 nas últimas semanas. Nas bombas, porém, o produto subiu R$ 0,05 na semana passada, para R$ 4,21 por litro.

O segmento de distribuição de combustíveis evita falar publicamente sobre o tema. Representantes das empresas disseram à Folha que o etanol e aumento de custos com a inflação são componentes que vêm segurando os preços.

E questionaram as estimativas de queda feitas pela Petrobras e pelo governo, afirmando que a empresa responde por apenas um terço do preço final da gasolina. A maior parcela, dos impostos, permanece inalterada desde fevereiro, quando foi pressionada pela elevação do ICMS.

Os impostos representaram em junho 35% do preço final da gasolina, segundo o Ineep, com uma fatia de R$ 2,17 por litro. Após a instituição do novo modelo de cobrança durante o governo Jair Bolsonaro, o valor é fixo e não varia de acordo com o preço final de bomba.

"Se existe forma de baixar preço, ou é dólar ou petróleo caindo, ou é reduzindo imposto", afirma Thorp Neto.

Read Entire Article