Preço dos alimentos começa a cair no Brasil, mas tarifaço de Trump gera incertezas

10 horas atrás 2

Após nove meses consecutivos em alta, os preços dos alimentos consumidos no domicílio caíram 0,43% em junho no Brasil, de acordo com dados do índice oficial de inflação, o IPCA, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A redução, dizem analistas, pode ser atribuída a pelo menos dois fatores: o aumento da oferta de produtos com melhores condições de produção no campo e o dólar mais baixo nos últimos meses.

O cenário a partir de agosto, contudo, ganhou uma camada de incertezas devido à promessa do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de sobretaxar em 50% os produtos exportados pelo Brasil.

A primeira dúvida é se de fato a medida entrará em vigor nos termos anunciados por Trump, já que o presidente americano acumulou recuos em casos semelhantes, e ainda há tempo para possíveis negociações entre os dois países.

No caso dos alimentos, café, carne bovina e suco de laranja se destacam nas exportações do Brasil para os Estados Unidos.

Em tese, o freio nos embarques poderia resultar em uma oferta maior desses produtos no mercado interno em um primeiro momento, reduzindo os preços para o consumidor brasileiro, segundo o economista Leandro Gilio, pesquisador do Insper Agro Global.

Ele, porém, afirma que o dólar tende a se valorizar em períodos de incertezas elevadas. Isso poderia pressionar os custos de insumos e os preços finais –não só dos alimentos– posteriormente.

"A gente não sabe ainda se tudo vai ser aplicado e como o Brasil vai responder", diz. "Tem um ambiente de incertezas de ambas as partes", acrescenta Gilio, reforçando que uma eventual pressão do câmbio teria impactos mais generalizados no IPCA do que uma queda de preços de alimentos específicos.

Para o economista-chefe da consultoria MB Associados, Sergio Vale, ainda não é possível projetar grandes mudanças no cenário de inflação no Brasil.

"Tudo ainda está incipiente. Não sabemos se Trump vai ficar com os 50%, se isso vai ser negociado, se o Brasil vai retaliar", afirma.

Conforme Vale, em caso de um cenário "mais extremo", com a manutenção da sobretaxa de 50% pelos americanos e a resposta do governo Lula (PT) em igual patamar, a tendência seria de pressão sobre o dólar.

"Um câmbio que sobe, em contraposição a uma queda de preços que pode acontecer em um ou outro produto, teria um efeito mais negativo para a inflação", diz.

Por ora, Vale prevê que a alimentação no domicílio fechará o acumulado de 2025 com alta de 5,5% no IPCA, após aumento de 8,23% em 2024.

A perspectiva de avanço menor neste ano ocorre em meio a um movimento de recomposição de safras. O país caminha para fechar 2025 com produção recorde de grãos.

Até junho, a alimentação no domicílio acumulou inflação de 6,23% em 12 meses, conforme o IBGE. A taxa está acima da alta do IPCA em termos gerais (5,35%).

Os preços dos alimentos têm preocupado o governo Lula. A carestia registrada no início do ano foi apontada como uma das principais razões para a perda de popularidade do presidente.

No IPCA de junho, o IBGE apurou queda mensal nos preços de alimentos como ovo de galinha (-6,58%), arroz (-3,23%) e frutas (-2,22%). O tomate, por outro lado, foi o destaque do lado das altas (3,25%).

De modo direto, o tarifaço pode impactar os preços de uma quantidade "bem limitada" de produtos agropecuários no Brasil, segundo o pesquisador Felippe Serigati, do centro de estudos FGV Agro.

O especialista avalia que o maior risco para a inflação dos alimentos viria de uma pressão significativa sobre a taxa de câmbio, o que não se configurou até o momento.

Na avaliação de Serigati, ainda há um "caminho aberto" nas discussões, porque os Estados Unidos teriam dificuldades para repor as perdas de fornecimento em caso de saída do Brasil do mercado americano.

No caso do suco de laranja, por exemplo, o tarifaço resultaria em uma estratégia "perde-perde", diz o pesquisador.

Ou seja, os importadores americanos não teriam um parceiro com a mesma capacidade de abastecimento, e o Brasil não contaria com outro mercado imediato para escoar a produção.

"Como é uma estratégia perde-perde, não sei se [a sobretaxa de 50%] vai efetivamente acontecer", afirma o pesquisador.

Read Entire Article