Relatório interno dos EUA não vê provas de que Hamas rouba comida em Gaza

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Um relatório interno do governo dos Estados Unidos não identificou nenhuma prova de que o grupo terrorista Hamas roube comida ou ajuda humanitária pagas pelos EUA, contrariando a acusação de Israel que sustenta o novo regime de entrega de suprimentos na Faixa de Gaza.

O relatório foi produzido em junho pela Usaid, a agência de ajuda humanitária americana que foi desmantelada pelo governo Donald Trump e que hoje é parte do Departamento de Estado. A Usaid examinou 156 incidentes de roubo ou perda de comida paga pelos EUA em Gaza desde outubro de 2023 — e concluiu que nenhum dos casos pode ser ligado ao Hamas.

O documento, que não foi publicado e ao qual a agência de notícias Reuters teve acesso, afirma que "não há relatos de que o Hamas" tenha se beneficiado de suprimentos americanos. Os incidentes analisados foram reportados pela ONU e outras organizações que distribuíam a ajuda humanitária financiada por Washington.

Desde o fim do bloqueio completo da Faixa de Gaza em maio, Israel controla totalmente a entrada de comida no território, que só acontece por meio da Fundação Humanitária de Gaza (FHG), uma organização obscura financiada por Washington e Tel Aviv.

A ONU e outras entidades com tradição de décadas em ajuda humanitária se recusam a trabalhar com a FHG, dizendo que ela é parcial, coloca os palestinos em risco e existe para servir a objetivos militares israelenses. Segundo as Nações Unidas, mais de mil pessoas foram mortas por soldados de Israel enquanto tentavam buscar comida nos pontos de entrega da FHG.

Tel Aviv diz que o novo sistema é necessário justamente porque o Hamas seria responsável por roubar suprimentos quando as entregas aconteciam por meio da ONU e outras organizações —afirmação agora colocada em xeque pelo relatório interno da Usaid.

Dos roubos e destruição de suprimentos analisados pelo órgão, 44 incidentes foram causados direta ou indiretamente pelas Forças Armadas de Israel, diz o documento. O Exército israelense não respondeu a perguntas da reportagem.

Em resposta a questionamentos da Reuters, o Departamento de Estado dos EUA rejeitou as conclusões do relatório, dizendo que há vídeos que mostram o Hamas roubando comida, mas não indicou que vídeos seriam esses. A pasta responsável pela diplomacia americana disse ainda que grupos humanitários agem para acobertar corrupção.

Uma porta-voz da Casa Branca questionou a existência do documento interno, dizendo que nenhum funcionário do Departamento de Estado sabia de sua existência e que ele "provavelmente foi produzido por um agente do Estado profundo com o objetivo de atacar a política humanitária do presidente Trump".

Duas pessoas com conhecimento do assunto disseram à Reuters que o relatório foi compartilhado com integrantes do Departamento de Estado.

A existência da análise vem à tona no momento em que palestinos morrem de fome em Gaza depois de meses de entregas caóticas e violentas de suprimentos. Mais de cem ONGs alertaram esta semana para o risco de uma crise ainda maior no território palestino. De acordo com o Ministério de Saúde de Gaza, nove pessoas morreram de fome entre quinta (24) e sexta-feira (25), elevando o total de mortos de inanição desde o início da guerra para 122.

Lá Fora

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Já o Programa Mundial de Alimentos da ONU diz que um terço dos habitantes de Gaza, cerca de 700 mil pessoas, não comem há três dias. "A desnutrição está aumentando consideravelmente, com 90 mil mulheres e crianças que necessitam de tratamento urgente", disse o órgão das Nações Unidas.

O secretário-geral da ONU, o português António Guterres, criticou a comunidade internacional nesta sexta por ignorar o sofrimento dos palestinos que morrem de fome em Gaza e denunciou uma "crise moral que desafia a consciência global".

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