Maratonar filmes e séries ou ouvir músicas e podcasts são hábitos que fazem parte da rotina de muitos estudantes. Mas o que poucos percebem é que esses momentos também são aliados importantes na preparação para o Enem e outros vestibulares.
Ao integrar o entretenimento à rotina de preparação, os estudantes não apenas mantêm o foco, mas também ampliam o repertório cultural, especialmente na redação.
Folha Estudantes
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Para Victor Santos, coordenador pedagógico da Elite Rede de Ensino, o uso do audiovisual vai muito além da diversão. Ele destaca que esses conteúdos podem ajudar a produção textual dos candidatos.
"Na redação, o estudante consegue colocar em prática esses repertórios, o que valoriza o conteúdo. Além de enriquecer a escrita, o estudante também consegue deixar o texto com mais informações."
Jonas Stanley, diretor pedagógico do PB Colégio e Curso, do Rio de Janeiro, ressalta a importância de reservar tempo para o desenvolvimento do repertório sociocultural, não só para a redação, mas para todas as áreas da prova.
"No ano passado, por exemplo, o tema da redação foi sobre a cultura negra e, basicamente, quando olhamos o primeiro dia de prova, havia 13 ou 14 questões abordando esse assunto", explica Stanley. "Ou seja, a própria prova ajudou na redação. E mais, se o estudante já tem esse repertório, assistindo a filmes ou ouvindo podcasts, isso ajuda muito a responder sem precisar perder tempo."
O diretor pedagógico do PB Colégio destaca que uma das vantagens de incluir elementos audiovisuais na rotina de estudos está na gestão de tempo das respostas durante os exames. No caso do Enem, o estudante tem três minutos, em média, para responder a cada item da prova.
"Se o estudante perder cinco em uma questão, ele terá que compensar em outras. Então, quando chega uma questão a qual ele já tem vivência e repertório suficiente, acaba ganhando tempo para as próximas", afirma Stanley.
Apesar de recursos como filmes e séries serem aliados, eles devem funcionar como suporte, não como substitutos dos estudos tradicionais. A revisão teórica continua sendo fundamental.
Victor Santos, da Elite Rede de Ensino, afirma que é a teoria que fornece a base para o estudante interpretar e contextualizar o que absorve de outras fontes. Para Santos, entender os conteúdos que mais caem e como são abordados nas provas é tão importante quanto estudar o tema em si.
Um exemplo de como teoria e repertório cultural podem se complementar é o filme "Getúlio" (2014), que retrata os últimos dias do ex-presidente Getúlio Vargas no poder. Ao assistir o filme, o estudante não apenas revisita o clima político do período, mas também entende os personagens históricos e os conflitos que ajudam a fixar conceitos abordados na teoria.
Além disso, é preciso ter critério na escolha e na forma como esse conteúdo é utilizado nas provas, principalmente na redação. Nesse caso, não basta apenas citar nomes conhecidos ou obras populares, é necessário demonstrar domínio e profundidade sobre o tema.
Stanley alerta que o uso superficial desses elementos pode comprometer a argumentação na redação. Ele explica que o repertório de qualidade exige mais do que simplesmente mencionar no texto.
"Por exemplo, a pessoa cita os Racionais MC's, mas não aprofunda nada. Se perguntar qualquer coisa sobre Racionais, só vai falar sobre o Mano Brown", exemplifica Stanley. Nesses casos, o que poderia ser um diferencial vira um ponto fraco.
Esse tipo de uso limitado é chamado de repertório improdutivo, quando a referência até aparece, mas de forma desconectada do texto ou sem aprofundamento. Já o repertório legítimo é aquele que se encaixa na proposta da redação e revela que o estudante realmente compreende o que está citando.
O professor de redação Sérgio Paganim, do Curso Anglo, afirma que o critério do repertório sociocultural no Enem é um dos aspectos mais particulares do exame. Ele ressalta que outros vestibulares também exigem conhecimento de repertório, mas abordam isso de maneiras diferentes.
"Outros vestibulares, como a Fuvest, também cobram análise crítica do tema proposto", explica Paganim. "A Fuvest, por exemplo, tem uma prova de redação cujo critério de análise do tema, o critério A, que faz toda essa análise do tema e da capacidade crítica do candidato, tem um peso muito grande [na nota final]."
Em um cenário de provas cada vez mais interdisciplinares, investir no conteúdo audiovisual como complemento do estudo é uma alternativa criativa. Quando bem utilizado, esse repertório aumenta a visão dos estudantes em todos os aspectos. Dessa forma, aprender também pode acontecer fora dos livros, desde que se saiba exatamente o que fazer com o que se consome diariamente.