Sobretaxa dos EUA afeta ações de exportadoras brasileiras; Embraer cai quase 4%

2 dias atrás 9

As sobretaxas de 50% a produtos nacionais, anunciadas na quarta-feira (9) pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, derrubou uma série de ativos brasileiros –em especial ações de empresas de forte vínculo comercial com os norte-americanos.

O dólar chegou a tocar a máxima de R$ 5,621 durante a sessão, enquanto papéis da Embraer derreteram mais de 8% no início do pregão da Bolsa. A fabricante de aeronaves –cujas ações encerraram com tombo de 3,7%, a R$ 75,32– é uma das companhias que mais deverão sofrer com a nova fase do tarifaço do republicano. WEG, Marfrig e Suzano também foram citadas por relatórios de corretoras de investimentos e bancos.

A análise parte do tamanho da exposição da Embraer ao mercado dos Estados Unidos. Os norte-americanos respondem por 60% das vendas totais da companhia, de acordo com o BTG Pactual, e as sobretaxas devem implicar em uma compressão de 5% nas margens financeiras e operacionais da fabricante de aeronaves (algo em torno de US$ 390 milhões, ou R$ 2,1 bilhões, a menos no caixa).

Na primeira leva de tarifas, em abril, ficou estabelecido que as importações brasileiras estariam sujeitas a uma taxa básica de 10%, o que resultou em uma compressão de cerca de 1% (US$ 78 milhões) das margens da companhia. Antes disso, as alíquotas sobre o setor aeronáutico eram zero.

O relatório pondera que o repasse de preços é "aparentemente mais fácil" na aviação comercial, considerando que os jatos E1, usados para rotas regionais, não têm substituto direto no mercado dos EUA. Por outro lado, a competitividade da brasileira pode ser afetada por outras fabricantes, sobretudo a Airbus. A União Europeia está próxima de firmar um acordo preliminar com os Estados Unidos que isentaria aeronaves comerciais de algumas tarifas, segundo reportagem da Bloomberg.

Em nota, a Embraer disse que está avaliando os possíveis impactos da taxação em seus negócios, "caso o decreto se aplique à indústria de aviação no Brasil".

"Tais impactos serão abordados em nossa próxima conferência de resultados do segundo trimestre, no dia 5 de agosto. A empresa está trabalhando com as autoridades competentes visando reestabelecer a alíquota zero dos impostos de importação para o setor aeronáutico."

Dentro do setor de bens de capital, outra companhia brasileira vista como vulnerável ao tarifaço é a WEG, que fechou em queda de 0,52% na Bolsa.

Os EUA respondem por 20% a 25% das vendas totais da empresa, segundo o BTG. "Mais importante que isso, o país se tornou uma fonte fundamental de crescimento e lucratividade [para a WEG] nos últimos anos, impulsionada principalmente pela expansão do setor de infraestrutura de energia, incluindo transformadores", diz o relatório.

Boa parte do que é vendido nos EUA é produzido lá e no México. Mesmo assim, cerca de 30% do que a companhia produz no Brasil é exportado para os norte-americanos –uma fatia considerável, que pode fazer com que a empresa perca espaço nos EUA. O mercado de transformadores do país é limitado, segundo o BTG, e quase 80% da demanda local é atendida por empresas de fora. "Se a tarifa extra for aplicada apenas ao Brasil, outros países exportadores, como Coreia do Sul, México e Índia, poderão ganhar participação de mercado."

A XP vê caminhos para mitigar os efeitos negativos nas contas da empresa catarinense. A corretora cita revisão de preços e ajustes na base de produção, como aumentar as operações no México. Como boa parte da receita da companhia é em dólar, uma depreciação do real após a implementação das sobretaxas também entraria como um benefício indireto.

Procurada, a WEG afirmou que está acompanhando os desenrolares do tarifaço e que não irá se posicionar por ora.

Já no agro, Minerva é a mais diretamente afetada, segundo a XP. Cerca de 15% das receitas brutas totais dos últimos 12 meses da companhia foram geradas por exportações para os EUA, e a exposição ao mercado americano levou à queda de 1,28% das ações da empresa.

No entanto, os EUA também são abastecidos por operações da Minerva na Argentina, no Uruguai e no Paraguai, até agora imunes às tarifas mais altas de Trump e cujos preços médios são mais altos. Com as rotas alternativas definidas, o impacto líquido real sobre as margens da empresa deve ficar entre 8% e 15%, de acordo com a XP. "Apesar de acreditarmos que a companhia será capaz de redirecionar volumes para outros mercados, isso provavelmente ocorrerá em detrimento das margens", diz o relatório.

O Citi, por outro lado, prevê que o rearranjo do comércio global causado pelo tarifaço beneficie a companhia de outra forma. "Esperamos que a Austrália redirecione volumes de mercados como a China para atender à demanda dos EUA, o que poderia, por sua vez, abrir espaço para o Brasil e outros exportadores sul-americanos preencherem essas lacunas", afirma André Mazini, chefe de Equity Research para América Latina.

"Em um ambiente de oferta global restrita, vemos isso como um deslocamento temporário –uma dinâmica de "vasos comunicantes" – até que os fluxos comerciais se reequilibrem e os preços se estabilizem. Um real mais fraco amorteceria ainda mais o impacto para a Minerva, visto que 52% de sua receita é gerada no Brasil."

A Minerva estima uma perda de até 5% na receita líquida caso as sobretaxas de 50% de fato entrem em vigor. O acesso aos Estados Unidos por outros países "permite à companhia maximizar sua capacidade de arbitrar os mercados, reduzindo riscos, alavancando oportunidades e respondendo com eficiência a mudanças de cenário como essa", afirmou em nota.

Folha Mercado

Receba no seu email o que de mais importante acontece na economia; aberta para não assinantes.

As exportações brasileiras de celulose também podem ser afetadas pelo tarifaço –e a Suzano, neste ponto, encabeçou a repercussão negativa. A empresa, que recuou 0,3% no pregão, tem uma exposição relativamente alta ao mercado dos EUA, segundo o Goldman Sachs: 19% das vendas líquidas totais vêm de lá.

"É grande demais para ser facilmente redirecionada para outras regiões e exigiria um esforço comercial e logístico significativo, bem como potencial pressão de preços no processo. Além disso, entendemos que a empresa mantém contratos de longo prazo com grandes compradores na região, que também não poderiam ser facilmente alterados devido a requisitos de especificações de qualidade", afirmam os analistas Marcio Farid, Henrique Marques e Emerson Vieira.

No curto prazo, dizem eles, o consumo do estoque já nos EUA poderia adiar temporariamente o impacto, mas, caso nada mude na política comercial em relação ao Brasil, a expectativa do banco é que os compradores busquem alternativas mais viáveis em países com tarifas mais baixas, como Chile e Uruguai.

À Folha a companhia afirmou que está aguardando mais informações sobre o tarifaço para fazer uma análise interna mais efetiva.

Read Entire Article