A Taurus, maior fabricante de armas de fogo do Brasil, está cogitando transferir suas operações para os Estados Unidos caso as sobretaxas de 50% a produtos brasileiros de fato entre em vigor no próximo dia 1º de agosto. A informação foi dada pelo presidente da companhia, Salesio Nuhs, ao site Berlinda.
O fim das atividades no país poderia levar à demissão de cerca de 15 mil pessoas, entre funcionários contratados pela Taurus e terceirizados de empresas parceiras. A fábrica fica em São Leopoldo (RS), município na região metropolitana de Porto Alegre.
A possível transferência para os Estados Unidos, segundo Nuhs, não é uma ameaça, mas uma solução de emergência. "Se realmente perdurar essa questão da taxação de 50%, várias empresas e vários segmentos no Brasil ficarão inviabilizados. Ela não significa simplesmente diminuir margem. Significa inviabilidade total. Não existe margem que possa cobrir uma taxação de 50%", afirmou.
As ações da Taurus despencavam 7,68% no pregão da B3 desta segunda-feira (28), cotadas a R$ 4,81.
A possibilidade de transferência de operações e a proximidade do fim do prazo são notícias "muito ruins para as ações da empresa", diz Virgílio Lage, especialista da Valor Investimentos.
"A Taurus exporta em torno de 60% de sua produção para os Estados Unidos, fora as fábricas que estão localizadas na Geórgia e que são dependentes de algumas peças exportadas do Brasil. Seria uma taxação dupla."
Para Nuhs, falhas graves na diplomacia brasileira culminaram no atual cenário. A carta enviada pelo Brasil em maio, quando as tarifas para o país estavam em 10%, não foi respondida pelo governo Donald Trump –o que o executivo considera uma "tragédia".
"Isso mostra a nossa falta de competência para discutir um assunto dessa magnitude", apontou. "Essa falta de habilidade está trazendo uma insegurança jurídica muito grande para os empresários do Brasil e uma insegurança para o trabalhador, que pode perder seu emprego simplesmente porque o governo não conseguiu negociar."
O governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem tentado dialogar com os norte-americanos há semanas e, a poucos dias do prazo, afirma que seguirá apostando na saída diplomática. O chanceler Mauro Vieira estará em Nova York nesta semana para uma conferência da ONU e já sinalizou disposição para viajar à capital Washington, caso o governo Trump queira sentar à mesa para negociar.
Mas, ao que parece, há pouco espaço para um entendimento. Um funcionário da Casa Branca com acesso às tratativas ligadas às tarifas afirmou à Folha na sexta-feira (25) que o governo Trump avalia não ter recebido engajamento relevante ou propostas significativas por parte do Brasil para negociar os tributos.
Membros do governo brasileiro viram nessa afirmação dois possíveis indicativos: o de que os americanos preparam a narrativa para culpar o governo Lula pela imposição das tarifas e um sinal de que Trump indica querer tratar mesmo de questões não comerciais, mas políticas —o que a gestão brasileira rechaça.
Na carta endereçada ao presidente Lula em 9 de julho, Trump atribuiu a decisão de elevar a tarifação do país, "em parte", ao que vê como uma "caça às bruxas" contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Também citou "centenas de ordens" judiciais que censurariam a liberdade de expressão.
Auxiliares de Lula ressaltam que não haverá concessão na parte política ligada ao tarifaço. O Brasil quer levar a conversa ao campo comercial.
Segundo a agência de notícias Bloomberg, o governo Trump está preparando uma nova declaração como base legal para impor tarifas sobre o Brasil. O presidente republicano tem usado esse mecanismo para justificar seu tarifaço global, mas ainda não há detalhes do texto.
Trump também citou ter déficit com o Brasil, o que é incorreto, porque os EUA têm superávit com o país, então os americanos devem buscar alguma justificativa, fora da política, para deixar o decreto mais robusto.