Trump usa Vietnã para tentar excluir China do comércio global

1 semana atrás 11

Em seu primeiro mandato, o presidente Donald Trump forçou empresas a abandonarem sua dependência da China. Agora, ele está pressionando países a excluírem a China de suas cadeias de suprimentos.

Um acordo comercial preliminar entre o Vietnã e os Estados Unidos anunciado na quarta-feira (2) é o passo mais significativo até agora em direção a esse objetivo. Embora os detalhes sejam escassos, as exportações vietnamitas para os EUA enfrentarão uma tarifa de 20%, menor que uma taxa muito mais alta que Trump havia ameaçado antes.

Mas, notavelmente, o acordo também deve impor uma tarifa de 40% sobre quaisquer exportações do Vietnã classificadas como transbordo, ou mercadorias que se originaram em outro país e apenas passaram pelo país.

A penalidade visa a China, que tem usado o Vietnã e países vizinhos para contornar as tarifas americanas sobre seus produtos. E isso pode se tornar uma característica dos acordos comerciais dos EUA com outros governos do sudeste asiático enquanto tentam evitar tarifas altíssimas que entram em vigor na quarta-feira (9).

Os negociadores comerciais de Trump estão pressionando os vizinhos exportadores do Vietnã, como a Indonésia, a reduzirem a quantidade de conteúdo chinês em suas cadeias de suprimentos. Eles estão pedindo ao governo da Tailândia para examinar investimentos estrangeiros, esperando impedir que empresas chinesas se estabeleçam no país. Eles estão até pressionando alguns países a considerarem controles de exportação de tecnologia como semicondutores.

"O governo Trump está dizendo: 'Precisamos ver um desacoplamento estratégico se você quiser ser um parceiro comercial dos EUA'", disse Steve Okun, CEO da Apac Advisors, uma empresa de consultoria geopolítica. "A questão é: os países concordarão com isso?"

Os esforços dos EUA para isolar a China aumentam as vulnerabilidades enfrentadas pelos países do sudeste asiático, uma região estrategicamente importante para Pequim e já na linha de frente da dominação chinesa do comércio global e da manufatura.

Na quinta-feira (3), o Ministério do Comércio da China disse que estava "conduzindo uma avaliação" do acordo EUA-Vietnã, acrescentando que se opunha firmemente a qualquer acordo que viesse "às custas do interesse da China" e que "tomaria contramedidas para salvaguardar seus direitos e interesses legítimos".

Os termos comerciais que os Estados Unidos e o Vietnã concordaram até agora também dependerão de como são definidos —por exemplo, quanto de insumos chineses serão permitidos nas exportações vietnamitas, e como serão aplicados.

O Vietnã tinha tudo a perder ao entrar nas negociações comerciais com os Estados Unidos. Trump ameaçou o país com um imposto de importação de 46% sobre seus produtos, enviando ondas de choque por indústrias como calçados, vestuário e eletrônicos que passaram a depender do país como uma alternativa à China.

A incerteza causada pela ameaça de tarifas de Trump estava pesando sobre as empresas vietnamitas.

Uma tarifa de 20% não era o melhor cenário para ninguém, disse Tran Quang, um executivo de uma empresa de fragrâncias para casa que exporta quase todos os seus produtos para os Estados Unidos. "Mas não é tão ruim", disse.

Ele acrescentou que apoiava a taxa mais alta sobre o transbordo porque poderia ajudar as empresas vietnamitas que enfrentam concorrência desleal de empresas chinesas que investiram no Vietnã para escapar das tarifas.

"Há muitos pequenos empresários chineses que vêm ao Vietnã apenas para rotular novamente seus produtos antes de exportá-los para os EUA", disse ele.

O comércio e o investimento de empresas chinesas ajudaram a impulsionar o crescimento econômico no Vietnã e na região, mas o sudeste asiático está lutando para conter a torrente de produtos da China que estão levando empresas domésticas à falência. Nos últimos anos, com a economia da China ameaçada por uma crise imobiliária, o governo subsidiou fortemente as fábricas, levando a um aumento nas exportações chinesas em todo o mundo.

Mas limitações ao comércio da China na região correm o risco de desencadear reações em cadeia que poderiam prejudicar os países do sudeste asiático.

A falta de informações até agora divulgadas sobre o acordo com o Vietnã torna impossível avaliar completamente seu impacto, dizem os especialistas. Transbordo poderia se referir a produtos originários da China. Também poderia incluir coisas que são fabricadas no Vietnã, mas têm uma certa porcentagem de peças chinesas.

Mas se os limites sobre componentes chineses acabarem sendo rigorosos, as empresas americanas poderiam transferir sua produção para fora do Vietnã, disse Matt Priest, CEO da Footwear Distributors and Retailers of America, um grupo comercial.

"Se for muito oneroso ou difícil de cumprir, as empresas não usarão a oportunidade de aumentar o fornecimento no Vietnã", disse. "Elas podem até voltar para a China se for competitivo em preço."

O pacto com o Vietnã também deixa incertezas para as empresas enquanto esperam para ver que tipo de tarifas e restrições à China outros países do sudeste asiático concordarão em potenciais acordos com o governo Trump.

As restrições sobre a quantidade de conteúdo chinês em produtos exportados também colocam um fardo sobre os fiscais da aduana, que nunca foram solicitados a examinar as exportações tão de perto, levantando questões sobre quão eficazes serão. Alguns países até discutiram a criação de cadeias de suprimentos completamente diferentes para os Estados Unidos.

Washington também corre o risco de empurrar alguns países que estão profundamente integrados à economia da China para os braços de Pequim.

Muitos governos asiáticos estão preocupados com a forma como a China poderia responder a acordos que buscam isolar empresas chinesas. Pequim mostrou que está disposta a tomar medidas retaliatórias cada vez mais agressivas, como boicotar produtos e restringir minerais críticos dos quais seus vizinhos dependem. Também recorreu ao aumento das tensões no Mar do Sul da China, onde fez reivindicações militares sobre grande parte da via navegável.

"Politicamente, temos que pisar com cuidado entre as duas superpotências", disse Pavida Pananond, professora de relações internacionais da Universidade Thammasat, na Tailândia. "A China é uma potência econômica muito importante, não apenas como importadora de bens, mas como fonte de investimento e destino para exportações."

Read Entire Article