Venezuela acusa Bukele de abusos contra migrantes em prisões de El Salvador

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O procurador-geral da Venezuela, Tarek Saab, disse nesta segunda-feira (21) que seu gabinete investigará o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, e dois funcionários dele por supostos maus-tratos de venezuelanos que foram detidos no país centro-americano após um acordo do líder salvadorenho com os Estados Unidos.

De acordo com Saab, os detidos sofreram violações de direitos humanos que incluem abuso sexual, espancamentos, privação de atendimento médico e tratamentos sem anestesia. Eles também receberam comida e água que os deixaram doentes, segundo o procurador-geral.

A denúncia ocorre três dias após mais de 250 venezuelanos mantidos no Centro de Confinamento do Terrorismo, a mega prisão salvadorenha que serve de vitrine para a política de encarceramento de El Salvador, serem soltos para retornarem à Venezuela. Em troca, Caracas devolveu dez cidadãos e residentes americanos que estavam detidos e aproximadamente 80 presos políticos.

Além de Bukele, a Venezuela investigará o ministro da Justiça de El Salvador, Gustavo Villatoro, e o diretor-geral de centros penais, Osiris Luna Meza, segundo Saab. Durante a entrevista coletiva em que fez o anúncio, o procurador-geral mostrou vídeos de ex-detidos relatando torturas e mostrando ferimentos, como hematomas e cicatrizes, que eles disseram ser resultado dos abusos.

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O gabinete de Bukele não respondeu imediatamente a um pedido de comentário, e a Reuters não conseguiu confirmar imediatamente as afirmações feitas nos vídeos, mas dois dos que apareciam nas imagens puderam ser identificados como ex-detidos em El Salvador.

No final da segunda, o presidente salvadorenho falou sobre o assunto, embora sem comentar os supostos abusos.

"O regime de Maduro ficou satisfeito com o acordo de troca; por isso o aceitou", disse ele na rede social X. "Agora eles gritam sua indignação, não porque discordam do acordo, mas porque acabaram de perceber que ficaram sem reféns do país mais poderoso do mundo."

Os venezuelanos foram enviados a El Salvador pelos EUA em março, depois que o presidente Donald Trump invocou a Lei de Inimigos Estrangeiros de 1798 para deportar supostos membros da gangue Tren de Aragua sem os procedimentos normais de migração.

As deportações atraíram duras críticas de grupos de direitos humanos. Familiares e advogados de muitos dos deportados negam que eles tivessem ligações com gangues, e ao menos um deles, Kilmar Abrego Garcia, foi comprovadamente enviado à prisão por engano —e também relatou ter sido vítima de maus-tratos.

Os ex-detidos chegaram à Venezuela nesta sexta (18), mas ainda não retornaram às suas próprias casas.

"Não consigo parar de pensar na fome que meu filho passou", disse Yajaira Fuenmayor, mãe de Alirio Guillermo Belloso, na tarde de domingo (20), de sua casa em Maracaibo. "Tenho uma salada pronta, algumas arepas grelhadas, porque ele as adora, e há peixe na geladeira para fritar."

A ditadura, que sempre classificou as detenções em El Salvador de ilegais, disse que os homens passarão por avaliações médicas e serão entrevistados antes de serem liberados. De acordo com o regime, apenas sete dos homens tinham antecedentes criminais graves.

Há anos a oposição venezuelana critica o regime por manter ativistas e outros em condições semelhantes dentro da Venezuela. Segundo o grupo Foro Penal, 48 prisioneiros políticos venezuelanos foram libertados até agora.

"Lamentamos a ausência de uma lista oficial que nos permita verificar com mais precisão", disse a organização, acrescentando que algumas listas em circulação incluíram pessoas que não eram consideradas detidas políticas, pessoas que já haviam sido libertadas e até prisioneiros que morreram.

O Ministério das Comunicações não respondeu imediatamente a uma pergunta da agência de notícias Reuters sobre quem deve ser libertado e se algum deles estará sujeito a prisão domiciliar ou outras alternativas à detenção.

A principal coalizão de oposição na Venezuela comemorou a libertação dos prisioneiros, mas disse, no domingo, que quase mil 1.000 pessoas permanecem detidas na Venezuela por razões políticas e outras 12 foram capturadas nos últimos dias, no que chamou de "porta giratória" para prisioneiros políticos.

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