Mais de 100 grupos, em sua maioria de assistência e direitos humanos, pediram nesta quarta-feira (22) que os governos tomem medidas contra a fome que se espalha na Faixa de Gaza, exigindo também um cessar-fogo imediato e permanente, e a suspensão de todas as restrições ao fluxo de ajuda humanitária impostas por Israel.
Em um comunicado assinado por 111 organizações —incluindo a Médicos Sem Fronteiras, o Conselho Norueguês para Refugiados e a Refugees International—, os grupos alertaram que a "fome em massa" se espalha pelo território, mesmo com toneladas de alimentos, água potável, suprimentos médicos e outros itens intocados nos arredores de Gaza, já que as organizações humanitárias estão impedidas de acessá-los ou entregá-los.
"Nossos colegas e aqueles a quem servimos estão morrendo lentamente. Enquanto o cerco do governo israelense mata de fome a população de Gaza, os trabalhadores humanitários agora se juntam às mesmas filas de alimentos, correndo o risco de serem baleados apenas por tentarem alimentar suas famílias", afirma o texto.
"Com os suprimentos agora totalmente esgotados, as organizações humanitárias estão testemunhando seus próprios colegas e parceiros definhando diante de seus olhos", acrescenta. "As restrições, os atrasos e a fragmentação do Governo de Israel sob seu cerco total criaram caos, fome e morte."
As organizações pediram aos governos que exijam a suspensão de todas as restrições burocráticas e administrativas, a abertura de todas as travessias terrestres, a garantia do acesso a todos na Faixa de Gaza, a rejeição da distribuição controlada pelos militares e o restabelecimento de uma "resposta humanitária baseada em princípios e liderada pela ONU".
"Os Estados devem adotar medidas concretas para pôr fim ao cerco, como a interrupção da transferência de armas e munições", afirmam as organizações. Israel, que controla todos os suprimentos que entram no território, nega ser responsável pela escassez de alimentos.
Mais de 800 pessoas foram mortas nas últimas semanas tentando obter alimentos, principalmente em tiroteios em massa perpetrados por soldados israelenses posicionados perto dos centros de distribuição da Fundação Humanitária de Gaza (FHG).
A fundação, apoiada pelos Estados Unidos, tem sido duramente criticada por organizações humanitárias, incluindo as Nações Unidas, por sua suposta falta de neutralidade.
As forças israelenses mataram quase 60 mil palestinos em ataques aéreos, bombardeios e tiroteios desde o início do ataque a Gaza em resposta aos ataques do grupo Hamas contra Israel, que mataram 1.200 pessoas e capturaram 251 reféns em outubro de 2023.
Pela primeira vez desde o início da guerra, autoridades palestinas afirmam que dezenas também estão morrendo de fome.
Lá Fora
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Gaza viu seus estoques de alimentos se esgotarem desde que Israel cortou todo o fornecimento ao território em março e, em seguida, suspendeu o bloqueio em maio com novas medidas que, segundo o governo, são necessárias para impedir que a ajuda seja desviada para grupos terroristas.
O Conselho Norueguês para Refugiados informou à agência de notícias Reuters nesta terça que seus estoques de ajuda estavam completamente esgotados em Gaza, com alguns de seus funcionários passando fome, e a organização acusou Israel de paralisar seu trabalho.