A Geopolítica do Desencanto: Trump como símbolo de uma ordem em disputa

15 horas atrás 3

A volta de Donald Trump ao cenário internacional não deve ser lida apenas como resultado de seu estilo provocador. Ele aplica, ainda que de forma intuitiva, estratégias da psicologia econômica como anchoring: iniciar negociações com posições extremas para depois recuar. Mais que uma anomalia, Trump é reflexo das fraturas internas dos Estados Unidos e da atual reordenação global.

Desde a crise de 2008, a pandemia e os conflitos atuais (guerra da Ucrânia, e guerra Israel-Hamas), o mundo vive instabilidade crescente. Guerras e tensões comerciais coexistem com disputas por matérias-primas, crises energéticas e ambientais. Trump encarna essa nova fase, desafiando tratados e alianças tradicionais, forçando outros atores —como Europa, América Latina e Ásia— a redefinir suas posições.

A geopolítica voltou ao centro do debate. Especialistas, governos, ONGs e a mídia discutem as transformações globais em curso. Conceitos como a "Armadilha de Tucídides", explicam a tensão entre uma potência emergente (China) e outra em declínio (EUA). A ascensão de novos polos de poder torna o mundo mais multipolar.

Enquanto a China projeta poder de longo prazo —inclusive narrativo e histórico— os EUA sofrem com desigualdade interna, perda de competitividade e uma classe média enfraquecida. A globalização beneficiou elites móveis e penalizou setores mais vulneráveis, alimentando a ascensão de lideranças populistas como Trump, Bolsonaro ou Le Pen.

Trump simboliza essa ruptura: sua força política deriva do descontentamento com o sistema, não de uma nova ideologia. Seus atos impulsionam respostas unilaterais e tensionam a ordem internacional, mas também revelam o desgaste do modelo neoliberal e da confiança nas elites.

Na América Latina, a questão não é escolher entre EUA ou China, mas sim posicionar-se estrategicamente num mundo em transformação. Com recursos naturais, território e população ativa, países como Brasil e Argentina precisam de políticas estruturais, e não respostas emocionais. A geopolítica pode ajudar a formular estratégias de longo prazo, com base em interesses próprios.

Em vez de reagir a Trump com tarifas ou indignação, é preciso análise multidisciplinar. O mundo está em disputa e Trump, mais do que causa, é sintoma. Ele não é o terremoto, mas a rachadura. Se não mudarmos o olhar, veremos só os escombros —não as estruturas que estão ruindo.

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