O governo francês anunciou neste sábado (12) um acordo para pôr fim à disputa em relação à independência do arquipélago da Nova Caledônia, no Oceano Pacífico. Será criado um "Estado da Nova Caledônia", que pode ser reconhecido por outros países, mas o território continua a fazer parte da França.
Os neocaledônios terão direito à própria nacionalidade, sem perder a cidadania francesa. Moeda, Defesa e o Judiciário continuam sob controle da França.
Essa espécie de jabuticaba francesa põe fim a uma semana de intensas negociações em um hotel de Bougival, na periferia de Paris, entre defensores e adversários da independência do arquipélago, colonizado pelo Império Francês em 1853.
"É algo totalmente original. Os dois lados tiveram que fazer concessões", disse o especialista André Roux, professor de direito do Instituto de Estudos Políticos de Aix-en-Provence.
O primeiro-ministro francês, François Bayrou, qualificou o acordo como histórico. Como exige uma mudança na Constituição francesa, ainda é preciso que seja aprovado pela Assembleia Nacional e pelo Senado, reunidos em Congresso.
Ocupado há três milênios pelos ancestrais do povo Kanak, o arquipélago hoje conhecido como Nova Caledônia tornou-se colônia francesa em 1853, quando começou a ser utilizado pelo imperador Napoleão 3º como uma prisão —na década de 1870, muitos revolucionários envolvidos na Comuna de Paris acabaram enviados para o arquipélago no Pacífico. Desde 1946, a Nova Caledônia é um "território ultramarino" francês.
A descoberta de níquel, ainda no século 19, aguçou o interesse de Paris pelas ilhas. Ainda hoje a Nova Caledônia é um dos maiores produtores mundiais desse metal, usado na produção de baterias.
Ao longo da história, a luta pela independência foi marcada por insurreições periódicas, como em 1878, 1917, 1988 e, mais recentemente, 2024. A independência foi rejeitada em três referendos recentes, em 2018, 2020 e 2021. Só puderam votar os nativos da Nova Caledônia ou os franceses instalados há mais de duas décadas.
No ano passado, o anúncio da extensão do direito de voto a mais europeus foi o estopim de tumultos que deixaram 14 mortos e milhares de presos. O presidente Emmanuel Macron chegou a enviar mil agentes de segurança para a ilha.
O acordo deste sábado prevê a ampliação do colégio eleitoral aos europeus residentes há pelo menos 15 anos, um dos pontos mais delicados da negociação. Hoje, apenas eleitores registrados em 1998 e seus descendentes podem participar das eleições regionais, o que praticamente garante maioria legislativa para os kanaks —que temem perder influência no arquipélago.
Entre os kanaks mais famosos fora da França está o ex-jogador de futebol Christian Karembeu, campeão da Copa do Mundo de 1998. Karembeu notabilizou-se por não cantar a Marselhesa, hino nacional francês, antes das partidas da seleção.