O governo de Donald Trump prendeu cerca de 200 trabalhadores que estariam em situação migratória irregular durante uma operação em uma fazenda de maconha no sul da Califórnia. Um dos homens está internado em estado crítico em um hospital após ter caído ao tentar fugir dos agentes de imigração.
A operação, que ocorreu na quinta-feira (10) e registrou em confrontos entre agentes federais e manifestantes, foi conduzida pelo Departamento de Segurança Interna (DHS) e pelo ICE, o serviço de imigração dos EUA. Na Califórnia, a maconha é completamente legalizada e regulamentada desde 2018.
Inicialmente, o sindicato United Farm Workers informou que o trabalhador, de origem mexicana, havia morrido devido aos ferimentos. Mais tarde, a família desmentiu a informação e confirmou que ele está internado em estado crítico.
Segundo os familiares, ele caiu de uma altura superior a nove metros para escapar dos agentes. O DHS disse que o trabalhador não estava sendo perseguido no momento da queda.
"Esse indivíduo subiu no telhado de uma estufa e caiu. Agentes acionaram imediatamente o resgate médico", afirmou a pasta em nota.
A operação ocorreu nas regiões rurais das cidades de Carpinteria e Camarillo, a cerca de 110 km de Los Angeles, em fazendas da Glass House Farms. Segundo o DHS, mais de 500 manifestantes tentaram interromper a operação.
Imagens que circulam na internet mostram agentes federais armados, usando capacetes, máscaras e lançando gás lacrimogêneo contra manifestantes —o uso de máscaras e a ausência de identificação visível de membros do ICE tem se tornado comum no governo Trump. Segundo o governo, houve depredação de veículos, e vídeos mostram pessoas arremessando pedras contra carros do serviço de imigração.
Organizações de apoio a trabalhadores informaram que a ação incluiu prisões arbitrárias de cidadãos americanos e restrições ao contato dos detidos com advogados e familiares.
"Alguns trabalhadores só conseguiram fazer ligações depois de assinarem ordens de deportação voluntária", afirmou Angelica Preciado, advogada da organização California Rural Legal Assistance.
A presidente do sindicato United Farm Workers, Teresa Romero, denunciou que trabalhadores americanos só foram libertados após apagarem imagens da operação de seus celulares.
"Essas ações federais violentas e cruéis aterrorizam comunidades, ameaçam vidas e colocam em risco a cadeia de abastecimento de alimentos dos EUA", disse.
Estima-se que cerca de metade da força de trabalho agrícola no país esteja em situação irregular. Representantes do setor alertam que deportações em massa podem levar a uma crise no abastecimento de alimentos.
O DHS afirmou que encontrou dez migrantes menores de 18 anos na operação, e a empresa está sob investigação por violações de leis trabalhistas envolvendo trabalho infantil, segundo o comissário da Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP), Rodney Scott.
A Glass House Brands, proprietária das fazendas, declarou em nota que nunca violou intencionalmente normas de contratação e que nunca empregou menores de idade. A empresa também informou que está oferecendo assistência jurídica aos trabalhadores detidos.
O DHS afirmou que, além dos migrantes, quatro cidadãos americanos enfrentam acusações de agressão ou resistência à prisão.
Lá Fora
Receba no seu email uma seleção semanal com o que de mais importante aconteceu no mundo
O presidente Donald Trump reagiu ao episódio condenando os manifestantes, chamando-os de "vagabundos", e disse que eles deveriam ser presos.
O republicano tem adotado uma política anti-imigração de deportações em massa e tem travado um embate com o estado da Califórnia, governado pelo democrata Gavin Newsom.
Paralelamente à operação, a política de imigração de Trump sofreu um revés na esfera judicial. A juíza federal da Califórnia Maame Frimpong determinou a suspensão imediata das chamadas "patrulhas móveis" realizadas por agentes federais contra imigrantes.
Segundo ela, as prisões vinham sendo feitas com base em perfil racial, no idioma falado —especialmente espanhol— ou no local de trabalho dos detidos. A decisão também obriga o governo federal a garantir que os detidos possam consultar seus advogados.
A determinação atende a um processo movido por grupos de defesa dos direitos dos imigrantes, que consideram que essas práticas violam a quarta e a quinta emendas da Constituição dos EUA —esses artigos protegem pessoas contra abusos das forças de segurança e garantem o direito a um julgamento justo.