O primeiro-ministro da Espanha, o socialista Pedro Sánchez, anunciou nesta quarta-feira (9) um plano anticorrupção que não foi suficiente para silenciar os pedidos da oposição por sua renúncia, nem as dúvidas de seus aliados.
Sánchez enfrenta grave escândalo de corrupção no Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), desde que foi revelado que várias autoridades da legenda teriam supostamente de esquema de corrupção envolvendo pagamentos em troca de concessões de contratos de obras públicas.
Entre os acusados estão o ex-ministro de Transportes do governo José Luis Ábalos e o número 3 na hierarquia da sigla, Santos Cerdán, que foi detido na semana passada. Todos negam as acusações.
O aspecto mais prejudicial para o PSOE foi a publicação de gravações de conversas nas quais os suspeitos discutiam a distribuição de propinas por obras públicas e as qualidades de profissionais do sexo.
Entre as 15 medidas listadas pelo primeiro-ministro no Parlamento nesta quarta estão a criação de uma "agência independente de integridade pública", o uso de inteligência artificial para detectar "indícios de fraude" na plataforma de concessão de contratos públicos, verificações aleatórias de ativos de funcionários de alto escalão e o reforço à proteção de denunciantes.
Lá Fora
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Sánchez disse que considerou renunciar devido aos escândalos, mas decidiu não desistir do cargo. "Quero dizer aos cidadãos e aos senhores que não vou desistir e que vamos continuar. Depois de refletir e ouvir muitas pessoas, percebi que jogar a toalha nunca é uma opção", afirmou.
O premiê compareceu nesta quarta ao Parlamento para explicar a prisão de Cerdán e Ábalos. Ambos eram muito próximos de Sánchez e foram fundamentais para sua ascensão à liderança socialista e, em 2018, ao poder.
No último fim de semana, também foi revelada a renúncia de um colaborador próximo do premiê, Francisco Salazar, que integraria a nova liderança do partido na reestruturação iniciada após a saída de Cerdán. Salazar foi acusado de "conduta inapropriada" de natureza sexual por várias mulheres socialistas, em um artigo publicado no site eldiario.es.
Paralelamente, o irmão e a esposa de Sánchez também são alvo de investigações judiciais por tráfico de influência e tratamento preferencial, o que aumenta a pressão sobre o premiê.
Em resposta ao discurso de Sánchez no Parlamento, Alberto Núñez Feijóo, líder do Partido Popular (PP), o maior da oposição, rejeitou as explicações do primeiro-ministro e chamou os socialistas de "organização criminosa".
"Todos esses anos eles operaram como uma organização criminosa", disse o líder conservador, chamando Sánchez de "político destruído" e exigindo novamente a antecipação das eleições. "Não veio para limpar nada, mas para sujar tudo: seu partido, a política e a nação da qual não é mais um representante digno", acrescentou Feijóo, dirigindo-se a Sánchez.
Os socialistas estão em minoria no Congresso e Sánchez governa graças ao apoio de siglas mais à esquerda do PSOE e de nacionalistas bascos e catalães, que o advertiram que o momento é delicado e as explicações recebidas até agora são insuficientes.
"Você é honesto, mas os progressistas estão angustiados. Angustiados pela corrupção e porque não querem que as direitas governem a Espanha", disse Yolanda Díaz, ministra do Trabalho e líder do Sumar, movimento à esquerda dos socialistas que governa participa do governo.
Se o escândalo "aumentar vamos obrigá-lo a deixar que o povo decida", disse Gabriel Rufián, do partido independentista catalão ERC, com uma ameaça de forçá-lo a convocar eleições.