Presidente da Comissão Europeia sobrevive a moção de censura no Parlamento Europeu

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Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, sobreviveu nesta quinta-feira (10) a uma moção de censura no Parlamento Europeu. Em Estrasburgo, a proposta encabeçada por partidos de extrema direita foi rejeitada por 360 deputados, o número que seria necessário para aprová-la. Foram a favor do afastamento 175 legisladores e 18 se abstiveram.

Dos atuais 719 integrantes do Parlamento, 553 apareceram para votar. Na votação seguinte, que ocorreu minutos depois, 636 marcaram presença. A sugestão de um gesto deliberado de parte dos eurodeputados completou dias de recados para a médica de 66 anos, a mulher mais poderosa da Europa.

Conservadores, sociais-democratas, liberais e verdes, que bancaram sua recondução ao cargo há quase um ano, demonstram descontentamento com seguidos acenos de Von der Leyen a extremistas e nacionalistas.

Atenta à dinâmica das urnas europeias, a chefe da UE acelerou a adoção de legislação que endurece a política imigratória do continente e advogou pela flexibilização de metas climáticas do continente, entre outros movimentos controversos. Von der Leyen justifica sua atitude como pragmática. É a receita seguida por diversos conservadores europeus diante de eleitores pouco amigáveis, em geral seduzidos por soluções fáceis do discurso populista.

A política alemã, no entanto, teve que fazer promessas para garantir um apoio mais explícito na votação desta quinta, à qual não compareceu —preferiu continuar em seu papel de presidente em conferência pró-Ucrânia, em Roma. O partido Socialistas e Democratas, por exemplo, só garantiu empenho no pleito depois de tirar de Von der Leyen o compromisso de manter intactos programas sociais no próximo Orçamento da UE, que entra em vigor em 2028.

"Acho que ela finalmente entendeu o que está acontecendo no Parlamento", declarou o eurodeputado René Repasi, líder do SPD, o partido social-democrata alemão, em Estrasburgo. Katarina Barley, vice-presidente do Parlamento, foi além e declarou após a votação que seus colegas do Socialistas e Democratas viam o apoio à chefe da UE como uma espécie de "última chance", de acordo com relatos da imprensa.

Passar recado também foi o motivo alegado para a rara, mas não inédita moção proposta por Gheorghe Piperea. Professor da Universidade de Bucareste, o eurodeputado romeno ficou conhecido pela bandeira antivacina e engordou a onda de extrema direita no Parlamento Europeu em 2024.

Cético sobre o apoio que conseguiria angariar para o voto de desconfiança, Piperea declarou antes da votação que sua intenção era apenas mostrar para Von der Leyen que "é possível lhe tirar do cargo" e que isso seria um exercício saudável para a UE. Em 1999, tal ameaça provocou a renúncia de toda a Comissão Europeia montada pelo luxemburguês Jacques Santer.

Fundamentou a proposta deste ano a decisão da Justiça europeia de contestar a negativa de Von der Leyen de fornecer ao jornal The New York Times mensagens de texto que trocou com um executivo da Pfizer durante a pandemia. A chefe da UE teria garantido o fornecimento de vacinas para o bloco, mas por um preço acima do praticado no mercado à época. A Comissão Europeia ainda não decidiu se apelará da decisão.

Em debate sobre a moção de censura no começo da semana, Von der Leyen negou irregularidades e bateu no passado antivacina de Piperea. Classificou o pedido do eurodeputado como parte de uma "era de luta entre a democracia e o antiliberalismo", alimentada por "conspirações, desde antivacinas até defensores de Vladimir Putin".

O atual populismo romeno, declaradamente pró-Rússia, deriva justamente dos movimentos antivacina do começo da década, segundo especialistas. A última eleição para presidente no país chegou a ser anulada pela corte constitucional do país após denúncias de interferência externa.

Segundo Iratxe García Pérez, espanhola que lidera o Socialistas e Democratas, Von der Leyen precisa voltar a demonstrar compromisso com as prioridades europeias, como "crescimento econômico atrelado à justiça social e transição verde", bandeiras contestadas pela extrema direita. Até aqui, porém, a presidente da Comissão Europeia não parece estar convencendo os eurodeputados de que é possível trilhar um caminho pelo centro.

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