Foram 12 dias de bombardeios recíprocos, iniciados por Israel. Ao término dos ataques, com 963 mortes declaradas do lado iraniano e 28 do lado israelense, iniciou-se aquela artilharia verbal insana. Quem levou a melhor? Quem foi mais destrutivo, Estados Unidos ou Israel? Quanto tempo o regime dos aiatolás precisará para reerguer o programa nuclear? Quem atacará primeiro da próxima vez?
No recente encontro com Binyamin Netanyahu em Washington, o presidente Donald Trump adotou tom moderado ao falar de Teerã. Instalações nucleares do país do Golfo Pérsico foram perfuradas por bombas antibunker americanas, mas, vejam bem, "os iranianos são respeitosos e querem conversar". Trump em campanha para o Nobel da Paz.
Estrategistas têm interpretado o intento nuclear iraniano como uma obsessão do regime teocrático. Acrescente-se a isso o orgulho resultante do urânio enriquecido, algo que ainda pode funcionar numa sociedade fraturada, bem como a necessidade de ranger os dentes ao arqui-inimigo, Israel. Ali Khamenei, líder supremo do Irã, pode até preparar a sucessão, calculando que o matem, mas alerta que o programa nuclear não deve recuar. O curioso é relembrar a origem da obsessão.
Era dezembro de 1953 quando o presidente americano, Dwight D. Eisenhower, proferiu um discurso histórico nas Nações Unidas. Falou dos riscos da corrida armamentista, justificando por que os Estados Unidos deveriam liderar um programa "para ajudar o mundo a sair da câmara escura dos horrores". Ao mesmo tempo, um monarca iraniano educado no Ocidente, muçulmano secularista e que fora beneficiado internamente por um golpe de Estado, atraía a atenção do americano. Eisenhower logo detalhou o seu Atoms for Peace, programa que teve no Xá Mohammed Reza Pahlavi um garoto propaganda.
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Presidente entre 1953 e 1961, Eisenhower governava como um general, que, de fato, era. Falava em uso pacífico da energia nuclear, mas tinha olhos fixos na Guerra Fria. Pahlavi, por sua vez, tirou o véu das mulheres e lhes deu o direito ao voto, modernizou a infraestrutura do país, promoveu a arte moderna (paixão da sua terceira mulher, a imperatriz Farah Diba) e atraiu vultosos apoios do Atoms for Peace. Cientistas iranianos formavam-se no MIT no tempo em que o primeiro reator americano surgia na paisagem de Teerã –dizem que ainda está lá.
Tudo ia bem até o momento em que o Xá, pressionado pela campanha de não-proliferação nuclear, buscou reatores na França em meio a uma crise de petróleo. Vestiu suas mais vistosas condecorações para festejar o negócio num banquete no Palácio de Versalhes. Incomodou. Os voos solo de Pahlavi, os casos de corrupção da elite iraniana, um antiamericanismo já à flor da pele dos iranianos e a repressão sangrenta do seu governo levaram-no ao exílio em 1979, com a ascensão da República Islâmica.
Em entrevista ao jornal The New York Times, Robert J. Einhorn, respeitado negociador americano em matéria nuclear, admitiu ao jornalista Michael Crowley: "Sim, nós demos o kit inicial para o Irã". Assim como deram ao Paquistão, outro beneficiário do programa de Eisenhower. E como estão dando para a Arábia Saudita de Mohammed bin Salman, um monarca despótico que regurgita petróleo, mas inala fluidos nucleares. Quanto ao Atoms for Peace, anos atrás virou nome de banda de rock.