Putin dobra aposta com novo mega-ataque à Ucrânia

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Um dia após o maior ataque aéreo realizado na Guerra da Ucrânia, as força de Vladimir Putin voltaram a lançar uma quantidade enorme de drones e mísseis contra o vizinho nesta quinta (10), mirando principalmente Kiev.

A capital ucraniana acordou sob um denso manto de fumaça dos incêndios causados pela salva, que durou boa parte da madrugada, como os anteriores. Ao menos duas pessoas morreram no ataque, que envolveu 397 drones e 18 mísseis, dos quais a Força Aérea local disse ter abatido 368 e 13, respectivamente.

Na quarta (9), foram 728 drones e 13 mísseis, recorde no conflito. A Folha ouviu de pessoas com interlocução no Kremlin que a intensificação está relacionada a dois fatores principais.

Primeiro, a crença de Putin de que é possível exaurir as defesas de Volodimir Zelenski. O vaivém americano no fornecimento de mísseis para sistemas Patriot e outros armamentos gerou mais do que insegurança em Kiev: provou que a Europa, por toda a retórica belicista e de reforço da Ucrânia, não tem fôlego industrial para tomar o lugar dos Estados Unidos no campo.

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Assim, a ordem atual é de aumento da pressão. A Rússia acaba de inaugurar uma nova fábrica de drones de ataque no Extremo Oriente, em Khabarovsk, com capacidade mensal de produzir 10 mil aviões-robôs. Hoje, analistas estimam que Putin tenha à disposição qualquer coisa entre 2.500 e 5.000 modelos de ataque suicida todo mês.

Enquanto os ataques aéreos desgastam a população, com as usuais cenas do metrô de Kiev lotado de pessoas fugindo das explosões, em solo os russos avançam. Nesta semana, tomaram novas áreas no leste e a primeira cidade na região de Dnipropetrovsk (centro-sul), que nem faz parte dos objetivos listados por Moscou na guerra.

Isso tudo tem animado a liderança russa, apesar de discretos alertas feitos dentro do governo sobre o risco de gerar uma expectativa fútil de vitória, não menos porque Moscou não aparenta capacidade militar hoje para dobrar Kiev de uma só vez, como não teve quando invadiu o vizinho em 2022.

O outro fator no cálculo atual de Putin é Donald Trump. O balé entre os dois líderes está numa fase de baixa na aproximação proposta pelo republicano, que passou a queixar-se abertamente do russo e prepara uma nova rodada de sanções econômicas contra o Kremlin, que são vistas como inevitáveis em Moscou.

A questão, se ficar na obsessão por tarifas de importação de Trump, tende a ser mais simbólica. O comércio entre Rússia e EUA é nulo, tendo registrado meros US$ 3,2 bilhões em 2024. Já sanções secundárias mais duras contra compradores de petróleo e derivados, como o Brasil já na mira de Trump, podem ter efeitos mais claros.

O influente vice-chanceler russo Serguei Riabkov minimizou o impacto eventual ao comentar as ameaças de Trump nesta quinta. A Rússia, diz, "criou mecanismos de defesa". Ainda assim, o Kremlin passou um ligeiro recibo acerca das queixas do americano.

Segundo o porta-voz de Putin, Dmitri Peskov, a Rússia "sempre esteve" aberta ao diálogo diplomático e espera de Kiev uma resposta sobre a terceira rodada de negociações diretas —as duas anteriores ocorreram por pressão de Trump, e só resultaram em trocas de prisioneiros e de listas de exigências mutuamente excludentes para um cessar-fogo.

Diplomatas russos e americanos também devem voltar a se encontrar nesta semana na Turquia, retomando as conversas para a normalização eventual das relações entre os dois países. Resta saber se isso será afetado pela renovada rodada de irritação de Trump com Putin.

Um observador que conversou com a reportagem disse também que Putin conta com o caráter mercurial de Trump, que já fez outras ameaças aos russos mesmo durante seu namoro com o Kremlin, só para depois voltar a falar diretamente com o colega e dar sinalizações negativas a Zelenski.

Há considerações práticas também. Ao fim, até não há grandes liberações de ajuda militar nova por parte dos EUA a Kiev, com as armas a caminho sendo parte do "sprint" final da administração Joe Biden. Esse fornecimento deve durar até o ano que vem e, para alguns equipamentos específicos, até 2028.

O líder ucraniano voltou a pedir ajuda aos europeus nesta quinta, ao participar de uma conferência de ajuda a seu país em Roma. Lá, chamou de "ataques terroristas diários" os bombardeios contra Kiev. A anfitriã, a premiê italiana Giorgia Meloni, afirmou que é importante "que a Ucrânia saiba que não está sozinha".

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