Cotado como candidato a presidente no ano que vem, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) disse neste sábado (12) que vê o tarifaço ao Brasil anunciado por Donald Trump como "algo complicado" para o Brasil e chamou a exigência por anistia como um "ponto de vista" diante da atual crise com os Estados Unidos.
"Acho que o momento demanda união de esforços, demanda sinergia, porque é algo complicado para o Brasil, é algo complicado para alguns segmentos da nossa indústria, do nosso agronegócio. A gente precisa estar de mãos dadas agora para resolver, deixar a questão política de lado e vamos tentar resolver essa questão", afirmou o governador no município de Cerquilho (SP).
Questionado sobre a exigência de anistia geral em troca do fim do tarifaço, como feito pelo deputado licenciado Eduardo Bolsonaro e seus aliados, Tarcísio disse que isso é uma questão de ponto de vista.
"Isso é questão de ponto de vista, nesse momento eu tenho que olhar o estado de São Paulo. Eu sou governador do estado, existem interesses que precisam ser preservados, interesses das nossas empresas, dos nossos produtores. E é isso que a gente tem que botar em primeiro lugar. Estou falando de empregos, estou falando de paz de família, então nesse momento é a defesa que eu tô fazendo."
Nos últimos dias, Tarcísio tem buscado remover o desgaste diante do tarifaço e nas últimas horas fez uma rodada de conversas que passou pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), por ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e pelo chefe da embaixada dos Estados Unidos no Brasil.
O governo Lula (PT) tem associado as consequências econômicas do tarifaço à oposição, inclusive a Tarcísio, aliado de Bolsonaro.
De acordo com interlocutores do governador, Tarcísio pode se colocar como um possível negociador com Trump. O governador, porém, além de ter encontrado obstáculos na conversa com ministros do Supremo, viu resistência dentro do campo bolsonarista para essa tentativa de diálogo com os Estados Unidos.
Eduardo Bolsonaro, deputado licenciado e filho do ex-presidente, disse por exemplo que o eventual fim do tarifaço precisa passar necessariamente por uma anistia geral aos acusados da trama golpista, o que incluiria seu pai, réu no STF no processo da trama golpista.
Já o ex-apresentador Paulo Figueiredo, outro bolsonarista que tem advogado nos EUA por sanções contra o governo Lula, disse que Tarcísio "atrapalha sem nem saber". "Enquanto o sistema tiver esperanças de que ele surja como o Salvador da Pátria intermediando um acordo com os EUA, não vão nem cogitar aquela que é a única solução real: a anistia ampla, geral e irrestrita".
Outro obstáculo para o papel de negociador aspirado por Tarcísio é o próprio Bolsonaro, que em nota um dia antes deixou claro que o que lhe interessa é a anistia. A tarifa de 50% aos produtos brasileiros e suas consequências aos produtores locais têm sido ignoradas pelo ex-presidente, que pede pressa aos Poderes para atender às exigências de Trump.
Além disso, segundo aliados, Bolsonaro quer centralizar nele e nos filhos a interlocução direta com o governo Trump. Uma eventual mediação de Tarcísio é vista pelo clã como tentativa de voo solo do afilhado político do ex-presidente, que poderia sair mais fortalecido politicamente em caso de sucesso.
A carta de Trump a Lula sobre o tarifaço deixa claro que a motivação dos EUA é a busca pelo fim do processo contra Bolsonaro no STF.
Trump é aliado de Bolsonaro, padrinho político de Tarcísio, que por sua vez é fã do presidente dos EUA, tendo até posado com um boné do republicano nas redes sociais após as eleições americanas, algo que tem sido explorado por aliados do Palácio do Planalto diante da atual crise.
A busca de Tarcísio agora por um protagonismo de negociador ocorre, como mostrou a Folha, após ter sido exposto a um nó político, na tentativa de se equilibrar entre fidelidade a Bolsonaro e o respeito à Justiça e à democracia.