Tarifaço de Trump sobre o Brasil vira alerta para Europa

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O tarifaço de 50% sobre as importações brasileiras determinado pelo presidente Donald Trump chocou o ambiente político europeu, que conduz, neste momento, as próprias negociações comerciais do bloco econômico com os EUA, não sem dificuldades. Observadores e analistas consideraram o movimento de Trump contra o governo Lula totalmente político e desprovido de razões econômicas.

Na quarta-feira (9), em postagens e em carta enviada a Luiz Inácio Lula da Silva, Trump declarou que as tarifas sobre os produtos brasileiros subiriam em 1° de agosto devido à suposta "caça às bruxas" promovida contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e a uma alegada "censura" de plataformas digitais americanas. Os termos entre aspas habitaram títulos da imprensa europeia sobre o caso, ecoando o linguajar populista de Trump em sua manifestação.

O problema, como sinaliza o Frankfurter Allgemeine Zeitung, é não haver argumento comercial para as ameaças. "Tarifas sempre foram uma ferramenta de política externa em todos os países. Porém raramente isso é tão explícito como a carta de Trump a Lula da Silva. Trump está demonstrando as tendências imperialistas de sua presidência", escreveu Patrick Welter, editor de Negócios do jornal alemão.

O comentário classifica o episódio como um alerta para a Europa, que tem vários produtos na mira do governo americano, que vão de remédios a veículos, estes já sobretaxados em 25%. Ao contrário do Brasil, a União Europeia é superavitária no comércio com os EUA, e alegações de censura e interferência nas empresas de mídia social habitam a relação transatlântica desde que Trump tomou posse em janeiro.

O presidente e seu vice, J.D. Vance, mais de uma vez acusaram a União Europeia de usar sua avançada legislação digital contra empresas americanas. Em fevereiro, Vance, na véspera das eleições parlamentares alemãs, acusou os europeus de cercearem a liberdade de expressão para supostamente conter a ascensão da extrema direita no continente.

Os argumentos usados contra o Brasil, por lógica, também serviriam para uma potencial punição tarifária americana contra a Europa. "O presidente Trump demonstra que sua política tarifária não visa ganhos econômicos, mas sim pura coerção a serviço de suas próprias convicções políticas. Essa medida é chocante em sua brutalidade, punindo um país inteiro por respeitar o Estado de Direito e processar uma tentativa de golpe fascista", declarou Anna Cavazzini, integrante do Parlamento Europeu e vice-presidente da comissão de relações com o Brasil da instituição.

"Além de acreditar que tem o poder de impedir um processo judicial em um país estrangeiro, Trump também acredita que pode fazer o Brasil mudar seu plano de combate ao discurso de ódio e ao racismo nas plataformas sociais", afirmou a eurodeputada alemã, representante dos Verdes.

Um dia antes, Cavazzini fazia observações sobre o lento avanço das negociações comerciais entre UE e EUA, que, como as com o Brasil, foram estendidas para 1° de agosto. "Tornar as leis da UE uma moeda de troca é e continua sendo totalmente inaceitável. Nossa Constituição digital e nossas normas de segurança alimentar não estão em negociação", disse, em referência a outra reclamação recorrente de Trump, a de que os EUA não conseguem exportar alimentos para União Europeia devido à restrita legislação sanitária e ambiental.

"A Comissão Europeia e os países-membros não devem recuar perante novas medidas, incluindo um novo imposto digital para as grandes empresas tecnológicas, que poderia contribuir para o próximo orçamento da UE." Cavazzini fala como oposição. A realidade é que os negociadores de Bruxelas estão sendo pressionados por diversos países a alcançarem um acordo rápido, ainda que frágil. A Alemanha, por exemplo, teme por suas exportações de veículos, a maior da Europa.

Um abrandamento da legislação digital, em termos ainda não definidos, é citado frequentemente como elemento de barganha. "A reação do presidente Lula foi exemplar. Espero que inspire a Comissão Europeia", declarou a eurodeputada.

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