Vídeo gravado por imigrante mostra superlotação em cela do ICE em Nova York

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Há semanas, imigrantes vêm denunciando condições de superlotação e insalubridade nas celas do escritório federal de imigração na cidade de Nova York, levantando preocupações entre parlamentares.

Na terça (23), um novo vídeo ofereceu o primeiro vislumbre do interior de uma das quatro celas no 10º andar do prédio 26 Federal Plaza, no sul de Manhattan, em que a Agência de Imigração e Alfândega (ICE) tem mantido centenas de migrantes por vários dias desde que intensificou as prisões nos últimos meses.

Dois vídeos, gravados por um migrante que esteve detido no local na semana anterior e conseguiu esconder seu celular, mostram mais de uma dúzia de homens deitados no chão sobre cobertores térmicos finos. Outras pessoas aparecem sentadas em bancos presos às paredes brancas da cela.

Em um dos vídeos, é possível ouvir um homem dizendo em espanhol que os migrantes estavam sendo mantidos ali "como cachorros".

Tradicionalmente, o ICE usava essas celas —que não possuem camas— para manter um pequeno número de migrantes por algumas horas, enquanto eram processados e transferidos para centros de detenção fora da cidade. Mas, desde maio, quando a agência ampliou as prisões, as celas passaram a ficar superlotadas, forçando migrantes a dormirem no chão ou sentados, muitas vezes por vários dias.

O vídeo parece confirmar as condições já descritas por migrantes em entrevistas ao jornal The New York Times e destacadas por ativistas e parlamentares democratas, que têm sido impedidos de inspecionar as celas. A gravação foi obtida pela Coalizão de Imigração de Nova York por meio da deputada estadual de Queens, Catalina Cruz, e foi divulgada inicialmente pelo site local The City.

Tricia McLaughlin, porta-voz do Departamento de Segurança Interna (DHS), que supervisiona o ICE, afirmou que o prédio 26 Federal Plaza "não é um centro de detenção" e que os detidos são mantidos ali apenas "por pouco tempo".

"Qualquer afirmação de superlotação ou condições precárias nas instalações do ICE é categoricamente falsa", disse. "Todos os detidos recebem alimentação adequada, atendimento médico e têm oportunidade de se comunicar com familiares e advogados."

As denúncias de superlotação aumentaram à medida que o governo Trump intensificou as deportações, levando os centros de detenção ao limite da capacidade. O número de pessoas em detenção nos Estados Unidos subiu para quase 57 mil neste mês, frente a menos de 40 mil no início do ano.

Em Nova York, as celas do 10º andar do 26 Federal Plaza têm sido o primeiro ponto de parada para a maioria dos migrantes presos pelo ICE. Frequentemente, eles são detidos ao comparecer a audiências rotineiras nos tribunais de Manhattan ou em atendimentos nas unidades do ICE, localizadas apenas alguns andares abaixo.

Desde janeiro, mais de 2.600 pessoas foram mantidas nesse endereço, com pico diário superior a 175 pessoas em 5 de junho, segundo dados federais divulgados pelo Deportation Data Project, da Universidade da Califórnia em Berkeley. O tempo médio de detenção no local subiu para cerca de 30 horas em maio e junho —contra média de apenas três horas no mesmo período do ano anterior.

Alguns migrantes relataram refeições escassas, temperaturas irregulares, falta de chuveiros e acesso limitado a atendimento médico —o que resultou em hospitalizações.

Parlamentares democratas de Nova York tentaram exercer o direito de fiscalização das celas do 10º andar diante das denúncias de insalubridade, invocando sua autoridade para realizar visitas surpresa em centros de detenção. Eles já compareceram ao local, organizaram protestos e enviaram uma carta em junho à secretária de Segurança Interna, Kristi Noem, mas tiveram seus esforços rejeitados.

O DHS argumentou que as celas são centros de triagem, fora da jurisdição do Congresso —embora altos funcionários do ICE em Nova York tenham admitido que migrantes dormem ali.

"Esse vídeo confirma o que temíamos o tempo todo: o ICE mentiu e nos impediu de entrar para esconder o que acontece lá dentro", disse a deputada Nydia Velázquez, democrata. "Não há mais desculpas. O ICE precisa permitir acesso imediato aos parlamentares e fechar essa instalação."

A divulgação dos vídeos ocorreu um dia após a secretária Kristi Noem e o conselheiro de fronteira do presidente Trump, Tom Homan, aparecerem em Nova York para anunciar o aumento das ações do ICE na cidade, após o tiroteio que feriu um agente alfandegário fora de serviço no sábado.

Dois homens da República Dominicana, que segundo autoridades haviam entrado ilegalmente nos EUA, foram acusados de emboscar o agente, que deve se recuperar.

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